Por Eduardo Quive
Quem pensa que estes meninos não sabem o que fazem e como fazem está enganado! Está, também, enganado quem pensa que eles envergonham-se do que fazem e do jeito que fazem, pois não só pelo público, mas pelo que eles chamam de “africanidade”, identificam como os seus sentimentos mandam e pela originalidade do seu continente. Os Djaakas que vem das terras do Chiveve, apesar do seu nome ter o significado de uma fruta (Jaca) quando subtraídas algumas letras (D e A), substituído o K pelo C, eles são a fonte de que os espíritos se orgulham e, se calhar, seja por isso que os vivos não aguentam quando os vê no palco. São a mais próxima imagem das comunidades primitivas e a mais africana identidade que temos. A seguir, em entrevista exclusiva com o nosso jornal, o integrante e produtor deste agrupamento, Dionísio da Silva, revela os segredos do sucesso inesgotável que estes “animais selvagens” tem em Moçambique, na África e no mundo.
Dionísio da Silva, integrante dos Djaakas |
Como estão os Djaakas?
Em termos de saúde os Djaakas estão muito bem, tirando os maus acontecimentos, como a perda de material que tivemos, mas já recebemos algum apoio para ultrapassar. sabemos que culturalmente, mesmo em termos de desporto, não são todos dias que as pessoas estão no auge, o importante é conseguir manter o que já foi feito.
As grandes viagens continuam e agora até aumentaram, mas um dos problemas que se coloca é que quando somos convidados nos grandes festivais temos que custear as passagens com nosso próprio esforço e isso as vezes tem nos trazido dificuldades, isto é, primeiro temos que gastar para ganhar depois.
E em termos de produção discográficas, a quanto estão?
Temos em manga um álbum sobre unidade nacional e que a respectiva música já está a fazer sucesso nas rádios, inclusive começamos a receber comentários mesmo na preparação do disco e alguém até disse que não teríamos trabalho igual em termos de qualidade. Mas isso é assim, quando lançamos o primeiro álbum todos diziam também que era o melhor e de facto é mesmo a identidade nacional.
E quando é que teremos o disco no mercado?
Se não estou em erro o disco já está a venda há uma semana. A Vidisco é que está a chancelar, a monitorar toda a situação e acreditamos que as vendas vão disparar. E mesmo para marcar o lançamento deste CD, teremos um grande concerto em Maio, uma verdadeira “Bomba”.
E em que consistirá essa Bomba?
Uma vez o nome do nosso álbum ser “Unidade Nacional”, queremos fazer um evento em que haverá uma união dos músicos do norte a sul, não exactamente todos, mas os que estiverem aqui em Maputo estarão connosco e possivelmente no Franco Moçambicano, estamos ainda nos acertos. Mas o lançamento não vai falhar.
Por que o nome “unidade nacional” para o vosso álbum?
Nós já tínhamos em mente fazer um trabalho com esta designação, mesmo ainda na preparação do primeiro trabalho. Os Djaakas, sempre quiseram fazer algo que a todos identificasse. Naquela altura falava-se pouco da auto-estima, mas agora, essa tendência no seio dos moçambicanos é maior, daí que decidimos neste momento trazer um álbum, mas já com mais eficácia, como unidade nacional.
Ouvindo a própria música, cuja produção e letra, foram feitas por mim, a sua mensagem pode decifrar este mistério que trazemos. Nós pensamos que podemos ser mais unidos, pois a sua passividade e a coragem de enfrentar os seus problemas pautando pelo diálogo é de louvar e é isso que exaltamos, mas musicalmente.
Antes pensávamos apenas na Unidade Nacional como música, mas agora notamos que ela se faz sentir e é necessária mesmo na vida social.
Quanto tempo foi necessário para a gravação do CD?
Nós levamos cerca de três meses para os aspectos técnicos e 10 dias nas gravações. Esse tempo foi muito rápido, mas as músicas em si, levaram mais que isso, pois, os Djaakas gostam de trazer a qualidade para os seus fãs e isso prepara-se com muito tempo.
Ouve muitas transformações nas letras até chegarmos ao produto final!
Djaakas no hora H, perante o mundo |
E a música Unidade Nacional…
Gravamos no ano 2009 e no ano passado serviu para a promoção da mesma e neste ano vamos fazer o lançamento do álbum. Agora iniciamos outro processo que é a gravação dos vídeos. Acredito que o público já não aguenta de ansiedade.
Qual é o contexto da música a que o álbum mereceu o nome?
Tratando-se de uma união dos povos, neste caso, do povo moçambicano, nós exaltamos, de modo particular, o simbolismo cultural de cada país, desde as danças, línguas, e as tradições no contexto geral. Chamamos cada província consoante a sua identificação cultural. Mas há outros temas que exaltam a felicidade e a luta dos povos, porque somos jovens e temos que dar o nosso contributo no desenvolvimento.
Por exemplo, há uma zona em Sofala, chamada Púngué, onde é mito sensível ás enxurradas. O que faz com que sempre hajam cheias.
Numa das músicas aconselhamos os moradores a estarem atentas as chuvas e sempre que for necessário se retirarem, que não desistam de recomeçar e que um dia tudo vai melhorar.
Por outro lado aconselhamos os governantes a servir melhor o povo!
Vocês são músicos do centro do país, mas diferentemente ao que acontece com os outros, são muito prestigiados e fazem muito sucesso no país e no exterior. Qual é o vosso truque para tal?
Uma das coisas que levou os Djaakas a conquistar o prestigiado espaço que tem a nível nacional, é a forma como nos apresentamos em público artisticamente. Temos uma grande espontaneidade e nem se quer nos envergonhamos em nos apresentar como se fossemos realmente viventes da África antiga, onde ficamos quase que sem roupa.
Nós pensamos que o que foi antes, tem que ser hoje. Nem sempre existiram estas roupas sofisticadas, já houve tempo das comunidades primitivas e isso é nossa história, nossa identidade que os Djaakas procuram resgatar através da música. Não podemos aparecer a tocar música tradicional vestidos de Nike ou Rebook por exemplo.
Acho que é isso que o povo gosta.
or outro lado o ritmo, pois nós somos objectivos, e trazemos mensagens que a sociedade se simpatiza com elas, para além de termos um bom balanço instrumental e ritmo, do jeito que é muito raro em, Moçambique e quem vai ao nosso concerto sabe o que vai ter.
Djaakas no palco, ao seu estilo característico |
Como é que são olhados pela sociedade, perante essa maneira de aparecer em público?
É complicado! …quem vê o Dionísio na rua nem se quer acredita que é dos Djaakas e algumas pessoas mesmo desmentem.
Mas nós somos artistas tradicionais, apesar de nem todos aceitarem essa postura.
Em alguns eventos, por exemplo, algumas galas, não aceitam que vistamos deste jeito, mas não vamos deixar de aparecer assim. É a nossa identidade, é africano, é moçambicano e são os Djaakas que os moçambicanos e o mundo gostam.
Acham que a mensagem que vocês procuram trazer nas músicas se transmite, mesmo usando uma língua local?
Infelizmente, nem todos falam e entendem a língua que usamos para cantar e se fosse assim, acho que seria muito bom, pois as pessoas não só dançariam do nosso jeito, mas também viveriam as histórias que cantamos.
Mas também não é problema porque a música não tem fronteira. E as nossas mensagens são bem feitas e sempre pedimos conselhos aos mais entendidos, dependido de cada contexto.
A quanto tempo existem os Djaaakas?
Os Djaakas existem desde 2000 e vem da companhia de canto e dança da casa da cultura da Beira, onde uma das divas das danças tradicionais e contemporâneas nacionais, Pérola Jaime, montou.
O Djaaka surgiu desse grupo, onde eu era integrante, como baterista e produtor musical e nessa altura, participei na produção da música Urombu, de David Mazembe, juntamente com Jorge Amade. As coisas foram ganhando outro rumo e formamos este agrupamento.
Tudo partiu daquela companhia e tivemos a perda do vocalista principal e timbileiro do grupo, mas estamos na praça e no top.
O que significa Djaaka?
Se tiras o D e um A, fica Jaca, nome de uma fruta!
Esta fruta na zona centro do país, não é apenas para comer, mas dela faz-se também, remédios tradicionais. E por causa dessa força que esta fruta transmite através da cura tradicional, decidimos dar como nome do nosso grupo. Acrescentamos o D para tornar o nome mais expressivo e forte. E ficou Djaaka!
Em quantos países já estiveram desde o princípio da vossa carreira?
Já fomos em vários países, dentre eles, as Ilha Reunião e Mayoute, Suécia graças ao Franco Moçambicano, Holanda, Dinamarca, fomos ao Expo 2008, com o governo a representar Moçambique. Espero que neste ano, voltemos para lá e já temos convite para lá, mas a dependência está no pagamento das passagens.
E em termos de prémios…?
Já fomos premiados várias vezes e graças a Deus muitas dessas no nosso país!
Participámos num concurso, chamado “Corra” e não conseguimos chegar até a final porque usava-se o sistema de SMS e Internet e na altura as tecnologias não eram habituais entre nós, isso a sete anos atrás.
Em termos de prémio em Moçambique, vencemos duas vezes a categoria de Melhor canção no top Ngoma da Rádio Moçambique e outra vez em Revelação.
A tragédia que abalou os Djaakas em 2009
UM incêndio cujas causas aliavam-se a um suposto curto circuito, destruiu em Novembro do ano passado, no Bairro do Esturro, na Beira, parte significativa da aparelhagem do Grupo Musical Djaaka, o que afectou praticamente os programas previamente estabelecidos, como por exemplo, o lançamento do mais recente disco, inicialmente marcado para Junho.
Dionísio considerou que naquela altura tudo esteve parado pois o conjunto não possuía dinheiro para alugar aparelhagem para ensaios porque os preços eram tão altos na praça beirense.
Mas como é que foi o incêndio?
Tudo aconteceu na tarde daquele dia, quando de repente verificou-se uma fumaça na dependência de uma residência onde o agrupamento guardava o equipamento, alegadamente por um curto-circuito. Foi uma grande dor para nós e passamos por momentos difíceis. Praticamente eram os Djaakas a se enfraquecerem, mas graças a algumas instituições conseguimos ultrapassar esse problema.
O lançamento do nosso novo disco estava comprometido porque não tinhamos como ensaiar devido à destruição da nossa aparelhagem.
Quais foram as perdas em termos financeiros?
Tivemos várias perdas, que nem imaginávamos estar aqui hoje ainda no sucesso. O que perdemos, em termos de dinheiro foi mais de 200 mil meticais, pois o fogo consumiu grande parte do equipamento musical, entre ele bateria, amplificador, microfones, extensão eléctrica, cabos e fios de violas. Foi mesmo um momento difícil e tenho que agradecer aos que tornaram possível a nossa recuperação. Aí nós vimos o quanto somos amados pelo público moçambicano e mesmo as empresas apoiaram-nos nessa hora e alguns até agora.
Djaakas em família |
E quem foram os responsáveis para o vosso ressurgimento?
Nós não desaparecemos, apenas fomos vítimas de uma acção que muito nos abalou. Mas para voltarmos ao normal e com mais auto-estima, a TDM, EDM, HCB e BCI ajudaram-nos muito, principalmente quando quisemos viajar para Europa. E não só houve outras pessoas que também contribuíram e por isso ficam aqui os nossos agradecimentos.
Quais são os planos daqui para frente?
São vários, mas agora priorizamos o lançamento do álbum Unidade Nacional, estamos a prepararmo-nos para trazer o prémio “Corra”, que não conseguimos há sete anos. E pretendemos fazer uma fusão com outros artistas nacionais, com vista a desenvolver a música nacional.
Os Djaakas são bons mas queremos melhorar.
muita força e mas novidades
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