sábado, 6 de junho de 2015

A PRIMEIRA VEZ DE ANA PAULA MAIA EM MOÇAMBIQUE



Sua literatura que não foge do global é o que reclama a cidade do Rio do Janeiro de onde é natural. Uma cidade em constante metamorfose e sempre o centro das atenções de um país em crescimento acelerado. Bem distante de Maputo e do Índico, os lugares não deixam de ser parte do interesse comum da literatura. Estava escrito que em algum momento da sua história, Ana Paula Maia, chegaria à cidade das acácias. Ciente da sua primeira presença em Maputo, entrevistei a escritora, que revelou ter tido já algum contacto com a literatura e os escritores moçambicanos no Brasil e espera aprofundar os lanços literários com o País. em respostas curtas, típicas da autora, é possível passearmos no seu modus operadi literário.

A vida literária parece que nos leva sempre à uma primeira vez. Sente essa realidade? Como acha que será a sua primeira vez em Moçambique?
Não faço ideia, mas espero que seja uma grata surpresa.

Há uma percepção quase geral de que Moçambique e Brasil são duas nações irmãs. Mas esse entendimento vai se ficando no fracasso quando se fala de literatura. Já alguma vez cruzou-se com um autor moçambicano?
Sim, já conheci alguns autores moçambicanos em festivais de literatura no Brasil.

E qual é a sua leitura do mundo no geral?
O mundo actual está em ebulição. A raça humana está enlouquecendo. Doente. Cruelmente violenta.

Que expectativa tem dos seus primeiros passos para o continente africano?
Tenho a expectativa de encontrar um pouco do Brasil, um pouco das nossas origens.

Chegada a Maputo, há uma pergunta que não se vai calar: quem é Ana Paula Maia? 
Difícil para alguém se autodefinir, mas a minha literatura fala muito de quem eu sou.

Em entrevista ao “Rascunho” revelou que publicou seu primeiro romance “O habitante das falhas subterrâneas” em 2003 aos 25 anos. E renegou-se à uma vida literária. Explique o que se passa no interior de um escritor ao publicar seu primeiro livro?
Houve muitas dúvidas e inseguranças ao publicar meu primeiro livro. Mas fui em frente para saber se eu realmente tinha vocação para a ficção, para a escrita.

Há um entendimento, a avaliar pelas críticas da sua obra, que a Ana Paula Maia tem a sua obra entregue entre a realidade e a ficção. O que causa a sua escrita?
Toda obra literária trafega entre realidade e ficção. Não é possível fazer de outra forma. A minha escrita se move nas sombras que estabelecem este limite.

Entende que a ficção nos permite fugir da realidade?
E nos permite a ampliar e a explorar a realidade em outras perspectivas.

Referindo-se ao seu livro “Carvão Animal” (2011) também ao “Rascunho” justificou-o como um livro que fala da morte física. Como podemos entender essa morte? Como ela acontece?
Da forma mais real possível: morrendo. Neste livro eu falo da morte e do que ela deixa para trás: um corpo. Isso é a morte física, de fato. Não é sobre ausência, saudades ou uma morte programada. É apenas a rotina da vida que gera morte diária.

E tudo leva a crer que nos seus livros o que se poderia chamar de sensibilidade feminina transforma-se em uma força. Como são os seus personagens?
Meus personagens movem as histórias, eles são a força da minha ficção. Posso dizer que são tipos peculiares.


Há cada vez mais uma tendência de se discernir a escrita pelo sexo de quem escreve. Onde você se posiciona perante esse actual ou quase antigo conflito?
Eu apenas escrevo sem me preocupar com isso. Não me posiciono, mas minha literatura transita num universo masculino.

Porque ler?
Leio porque gosto das outras possibilidades de existência.

Uma carta a um jovem escritor
Saiba o porquê de sua escrita e o que te move.

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