Sua literatura que
não foge do global é o que reclama a cidade do Rio do Janeiro de onde é
natural. Uma cidade em constante metamorfose e sempre o centro das atenções de
um país em crescimento acelerado. Bem distante de Maputo e do Índico, os
lugares não deixam de ser parte do interesse comum da literatura. Estava
escrito que em algum momento da sua história, Ana Paula Maia, chegaria à cidade
das acácias. Ciente da sua primeira presença em Maputo, entrevistei a
escritora, que revelou ter tido já algum contacto com a literatura e os escritores
moçambicanos no Brasil e espera aprofundar os lanços literários com o País. em
respostas curtas, típicas da autora, é possível passearmos no seu modus operadi literário.
A vida literária parece que nos leva sempre à uma
primeira vez. Sente essa realidade? Como acha que será a sua primeira vez em
Moçambique?
Não faço ideia, mas
espero que seja uma grata surpresa.
Há uma percepção quase geral de que Moçambique e Brasil
são duas nações irmãs. Mas esse entendimento vai se ficando no fracasso quando
se fala de literatura. Já alguma vez cruzou-se com um autor moçambicano?
Sim, já conheci
alguns autores moçambicanos em festivais de literatura no Brasil.
E qual é a sua leitura do mundo no geral?
O mundo actual está
em ebulição. A raça humana está enlouquecendo. Doente. Cruelmente violenta.
Que expectativa tem dos seus primeiros passos para o
continente africano?
Tenho a expectativa
de encontrar um pouco do Brasil, um pouco das nossas origens.
Chegada a Maputo, há uma pergunta que não se vai calar:
quem é Ana Paula Maia?
Difícil para alguém
se autodefinir, mas a minha literatura fala muito de quem eu sou.
Em entrevista ao “Rascunho” revelou que publicou seu
primeiro romance “O habitante das falhas subterrâneas” em 2003 aos 25 anos. E
renegou-se à uma vida literária. Explique o que se passa no interior de um
escritor ao publicar seu primeiro livro?
Houve muitas
dúvidas e inseguranças ao publicar meu primeiro livro. Mas fui em frente para
saber se eu realmente tinha vocação para a ficção, para a escrita.
Há um entendimento, a avaliar pelas críticas da sua obra,
que a Ana Paula Maia tem a sua obra entregue entre a realidade e a ficção. O
que causa a sua escrita?
Toda obra literária
trafega entre realidade e ficção. Não é possível fazer de outra forma. A minha
escrita se move nas sombras que estabelecem este limite.
Entende que a ficção nos permite fugir da realidade?
E nos permite a
ampliar e a explorar a realidade em outras perspectivas.
Referindo-se ao seu livro “Carvão Animal” (2011) também
ao “Rascunho” justificou-o como um livro que fala da morte física. Como podemos
entender essa morte? Como ela acontece?
Da forma mais real
possível: morrendo. Neste livro eu falo da morte e do que ela deixa para trás:
um corpo. Isso é a morte física, de fato. Não é sobre ausência, saudades ou uma
morte programada. É apenas a rotina da vida que gera morte diária.
E tudo leva a crer que nos seus livros o que se poderia
chamar de sensibilidade feminina transforma-se em uma força. Como são os seus
personagens?
Meus personagens
movem as histórias, eles são a força da minha ficção. Posso dizer que são tipos
peculiares.
Há cada vez mais uma tendência de se discernir a escrita
pelo sexo de quem escreve. Onde você se posiciona perante esse actual ou quase
antigo conflito?
Eu apenas escrevo
sem me preocupar com isso. Não me posiciono, mas minha literatura transita num
universo masculino.
Porque ler?
Leio porque gosto
das outras possibilidades de existência.
Uma carta a um jovem escritor
Saiba o porquê de
sua escrita e o que te move.
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