Obra publicada em 2014 |
Eis aqui as: “Jasmins e Chambre”. Leiam-nas com muito cuidado, com a atenção do
escritor nato, que Nélio Nhamposse é, que não se deixou enganar pela astúcia do
talento, que armou-se, e foi a várias fontes para dar sentido às suas palavras;
um escritor que sempre se identificou como tal e, por isso, já mais sossegou
naquilo que cria, foi ler outros escritores, invejou a qualidade, desejou o
melhor, reconheceu os clássicos e inventariou outros, aconselhou muitos “miúdos”
literários (dos quais me incluo); um escritor que aprovou a publicação de
outros, mesmo sabendo que poderia ser o primeiro e sempre melhor que muitos que
a esta altura caem no famoso verbo “consagrar”.
Este livro em que a primeira viagem é
percebermos se é prosa ou poesia, romance ou novela ou um manifesto do nada. É
um livro. Um lugar para a íntima relação entre o amor, a vida e a morte. Um
lugar onde tudo se confunde com o fim, mas não passa de uma confusão, pois o
fim nunca se sabe. Basta que se imagine que em algum lugar, deste livro,
encontrar-se-á títulos como “Finalmente, a minha mulher morreu”, um título ou
capítulo, capaz de revelar até aonde este contopoeta
que agora se chama Matiangola é capaz de ir, para mostrar o prazer do devaneio.
Mas que comece-se de como o autor ordenou: “Poema para Galileo”.
Com “Jasmins e Chambre” abriu-se um
novo paradigma na literatura moçambicana, uma nova teoria para bem dizer;
quando a morte já é mais do que a transformação do ser humano em simples coisa
em que se teme e se venera, aqui os mortos são verdadeiros enxovais; quando o
clímax do amor leva-nos a suplicar o silêncio definitivo das almas. Matiangola
é no mínimo o escritor perigoso. Leiam-no com cuidado.
Matiangola é alheio a seus
sentimentos, insensível e sarcástico; é capaz de abrir uma cova que jamais
saberá fechar nas almas mais exigentes sobre o que se chama vida. O seu livro é
para se levar com cuidado, pois não tem pudor, se se entende a palavra como a
morada estética. Ele escreve com sangue o que todos protegemos como se fosse de
mais precioso. Na verdade o mundo guarda uma grande vergonha nas suas façanhas.
E eis o escritor de “Jasmins e Chambre”, o Matiangola, a reactivar-nos o
realismo que as marcas não saem da nossa memória por nos ter trazido os mais
significativos escritores de todos os tempos. Gabriel García Marquez, Eça de
Queirós, Jorge Amado conhecem o sinuoso caminho de uma sociedade estranha de si
mesma. Afinal, “Jasmins e Chambre”, é para rir ou para chorar? Não, é para
cheirar!
E que esta viagem em “Jasmins e Chambre” não seja de “chapa
100”, a mais famosa tortuosa viagem dos moçambicanos, que seja de barco, para
contemplarmos o vasto oceano existencial da sua obra. Faço votos que o
compreendam… atenção, apenas votos!
Sem comentários:
Enviar um comentário