segunda-feira, 16 de fevereiro de 2015

“JASMINS E CHAMBRE”: UM LIVRO SEM PUDOR

Obra publicada em 2014

Eis aqui as: “Jasmins e Chambre”. Leiam-nas com muito cuidado, com a atenção do escritor nato, que Nélio Nhamposse é, que não se deixou enganar pela astúcia do talento, que armou-se, e foi a várias fontes para dar sentido às suas palavras; um escritor que sempre se identificou como tal e, por isso, já mais sossegou naquilo que cria, foi ler outros escritores, invejou a qualidade, desejou o melhor, reconheceu os clássicos e inventariou outros, aconselhou muitos “miúdos” literários (dos quais me incluo); um escritor que aprovou a publicação de outros, mesmo sabendo que poderia ser o primeiro e sempre melhor que muitos que a esta altura caem no famoso verbo “consagrar”.
Este livro em que a primeira viagem é percebermos se é prosa ou poesia, romance ou novela ou um manifesto do nada. É um livro. Um lugar para a íntima relação entre o amor, a vida e a morte. Um lugar onde tudo se confunde com o fim, mas não passa de uma confusão, pois o fim nunca se sabe. Basta que se imagine que em algum lugar, deste livro, encontrar-se-á títulos como “Finalmente, a minha mulher morreu”, um título ou capítulo, capaz de revelar até aonde este contopoeta que agora se chama Matiangola é capaz de ir, para mostrar o prazer do devaneio. Mas que comece-se de como o autor ordenou: “Poema para Galileo”.
Com “Jasmins e Chambre” abriu-se um novo paradigma na literatura moçambicana, uma nova teoria para bem dizer; quando a morte já é mais do que a transformação do ser humano em simples coisa em que se teme e se venera, aqui os mortos são verdadeiros enxovais; quando o clímax do amor leva-nos a suplicar o silêncio definitivo das almas. Matiangola é no mínimo o escritor perigoso. Leiam-no com cuidado.   
Matiangola é alheio a seus sentimentos, insensível e sarcástico; é capaz de abrir uma cova que jamais saberá fechar nas almas mais exigentes sobre o que se chama vida. O seu livro é para se levar com cuidado, pois não tem pudor, se se entende a palavra como a morada estética. Ele escreve com sangue o que todos protegemos como se fosse de mais precioso. Na verdade o mundo guarda uma grande vergonha nas suas façanhas. E eis o escritor de “Jasmins e Chambre”, o Matiangola, a reactivar-nos o realismo que as marcas não saem da nossa memória por nos ter trazido os mais significativos escritores de todos os tempos. Gabriel García Marquez, Eça de Queirós, Jorge Amado conhecem o sinuoso caminho de uma sociedade estranha de si mesma. Afinal, “Jasmins e Chambre”, é para rir ou para chorar? Não, é para cheirar!

E que esta viagem em “Jasmins e Chambre” não seja de “chapa 100”, a mais famosa tortuosa viagem dos moçambicanos, que seja de barco, para contemplarmos o vasto oceano existencial da sua obra. Faço votos que o compreendam… atenção, apenas votos!

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