Poeta Eduardo White |
Não estava errado Carlos Drummond de Andrade, ao vaticinar que “amor é primo da morte, e da morte vencedor”. E nunca esteve perdido, Eduardo White, ao vencer-se pela poética de Drummond e daí, encontrar-se o poeta do país na sua ira e na sua paixão. E agora se nos capa, como o imenso oceano que inevitavelmente nos leva para o oriente, essa janela do mundo, para a qual White sempre nos abriu.
Quando recebi as notícias da sua morte, não me pus a
admirar, não se admira a morte.
Quando sobre a sua morte foi impossível que o mundo se
calasse, não chorei, não se choram os poetas.
Quando soube da sua morte, da forma mais nua que se pôde
me dizer, não assustei-me, não assusta a morte.
Se não vejamos, Camões morreu, Pessoa morreu, Bandeira
morreu, Rilke morreu, Neto morreu, Craveirinha morreu, Noémia de Sousa morreu,
Rui Nogar morreu, o próprio Drummond, a quem White discipulou-se, disse “sim” a
morte.
Por tudo isso e por muito mais, a morte não me assusta,
até que ela se assuma como vencida, quando este mesmo mundo que chora, voltar a
recitar os poemas de amor a ela, tão bem escritos por Eduardo White, um
verdadeiro diarista da poesia. Para quem o fim da palavra era mais que um
verbo.
Quis o destino que o meu encontro com o poeta fosse na
sua verdadeira face, em pleno Pulmão da Malhangalene, no ano de 2012. Uma
entrevista da qual excertos não me saem da memória, quando White, encontra no
seu país, todas as mulheres que ama, todas as feridas do seu corpo, todos os
sonhos, todos os caminhos da sua imaginação e toda poesia.
Ele mesmo é quem disse quando perguntei sobre “País de
Mim”: Há outros países de mim. Dentro de mim há outros países. Há os de mim, há
os dos outros, há os nossos, há muitos. Até tu cabes dentro de mim e eu cabo
dentro de ti.
E disse mais: nós temos a idade deste país. E isso é
importante porque todos nós temos a oportunidade de crescer, uns vão nascendo
outros vão crescendo, mas fazemos todo este percursos; o que me falta a mim
falta a ti e a outro. É este entrecruzar de coisas que faz este país ser bonito
e ser de mim, ser teu e ser de todos.
Sem dúvidas, Eduardo White, era o país em si. Compreendeu
a nação antes que ela mesma se compreendesse. Isso era loucura para uns e, para
outros, a razão. O poeta nunca cedeu à amnésia persistente do tempo.
Destinou-se a ser atemporal. Optou pela geografia patriótica, pelo amor, essa
outra forma de exercer a cidadania.
E voltou a contar-me: eu sou um desassossegado. A minha
cabeça é inquieta, o meu coração é apaixonado e o meu corpo é desequilibrado.
Tudo isto junto faz esta grande inquietude que eu sou. Sou temperamental – o
que se reflecte bastante na minha poesia – posso estar bem agora e estar de
repente inquieto. Mas isso acho que é muito a minha natureza é a poesia para
mim, particularmente a que eu escrevo, é o contar das minhas coisas.
Um poeta em constante volúpia existencial, mas compreensível.
Eduardo White, reconhece que a arte move-se por sensações, e como tal, o poeta
se engrandece com o bem-estar sentimental dos outros, mesmo que signifique
angústia infinita para si.
Se em “Até amanhã coração” White quis ser verdadeiro com
seu amor em retrato feminino, hoje pode-se ir mais longe, é do país que se
despede, do mundo, de nós e dos outros, de si mesmo. Ele sempre viveu
intensamente as suas ilusões e decepções. Disse-me uma vez sem encanto nas
palavras que se fosse um cantor, talvez vivia melhor, mas “não um bom cantor, mau
cantor, com uns vídeos com umas mulheres com boas mamas. Neste país o que se
patrocina são pernas e mamas. Não é música propriamente dita”, afiançou.
Mas enganou-se o poeta. Estava vaticinado a morrer sem as
palavras. Uma morte digna, como só na poesia e na literatura é possível. White,
nunca foi um poeta cobarde, antes pelo contrário, sempre conheceu o valor das
palavras, pelo que fazia amor com elas, até que da morte bebeu a vida eterna e
da qual merecerá homenagens que nunca este interessado em ter. Um poeta-mor,
entre as avenidas de Maputo sem sirenes nem honra, apenas ele. Agora menino de
ninguém, num lugar muito habitado por outros poetas eternos. Vai meu poeta,
vai; deixa que te chorem, não muito tarde, se esquecerão das próprias lágrimas
e soluços, mas já mais de ti…
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