Esta
mulher carrega o mundo na sua alma e ainda pelas suas mãos assume-o condenado à
própria acção do homem. É o preto, o azul, o vermelho, o saco e outros tecidos,
incluindo as roupas usadas que fazem muitas vezes o lixo na cidade que essa
artista encontra os alicerces da sua imaginação e criação. Chama-se L27, é
moçambicana radicada na África do Sul a seis anos, desde a sua primeira
aparição individual em 2004.
Lizete
Chirrime (L27), com dez anos nas artes plásticas é uma mulher que tem o mundo nas
suas costas e na alma. O coração de toda a humanidade cabe nas suas mãos. Tudo
isso tem luz na sua criação artística que se viu na galeria do Centro
Cultural Franco Moçambicano, em Maputo, até o dia 05 de Agosto.
A
exposição que abriu as portas a dois de Julho é a demonstração do desejo da
liberdade de uma artista que pinta com as corres de angústia. Uma angústia, sem
dúvida anoitecida, pois, o preto omite toda a claridade possível do verdade da
esperança. Parece que os lugares verdes, como os jardins, espaços onde tinha
que se encontrar a paz espiritual e o lazer são agora o refúgio do lixo e de
toda a podridão humana.
“Não
respeitamos os jardins, lugar onde ficamos, tenho visto muito lixo, é uma
tristeza vivermos assim, porque somos moçambicanos e poucos fazemos a limpeza
da cidade” diz L27 interpretando-se a si mesma nessa “sinfonia da alma
liberta”.
Os
traços da Lizete ou L27 são incomparáveis na tradição moçambicana das artes
plástica, prova de que a artista não está a procura, mas já achou a sua
identidade. São dez anos de exercício criativo com pincéis, panos e tintas a
fluir com a intimidade dessa alma feminina que não tem poucas alegrias “são
meus gritos, as minhas lágrimas, aquilo que sou, a procura da libertação da minha
alma.”
Na
verdade, L27 tem os olhos de quem penetra para além da superfície. A angústia,
os gritos, o medo e o futuro incerto, são cenários que podem trazer essas
telas. O azul, cor do planeta, é capaz de cessar sem que os homens notem o
efeito das suas acções.
E
não é a pena a natureza que sofre esses efeitos da força que o Homem demonstra,
mas ele próprio pode extinguir-se e toda a vida moral estar a saque. “Estamos a
viver a perda dos valores, já não valorizamos o respeito ao próximo, ao lugar
onde vivemos, mantermos os lugares limpos, cuidar desse espaço”.
A
exposição “A sinfonia da alma liberta” de L27 é uma prova de que a artista, a
pesar de ter assentado os pés na cidade de Cabo, na vizinha África do Sul, a
alma encontra a tranquilidade na terra onde conheceu-se como pintora.
artista plastica L27 |
Porque
todo o artista ao agarrar o seu instrumento artístico, antes do olhar social
procura conhecer-se a si mesmo, L27 assim relaciona a sua arte e o que é: “sou
uma pessoa sensível, verdadeira, então ando em busca da verdade, quando vejo as
coisas a acontecer como estão me entristeço por isso a expressão das obras
transmite esse sentimento. Nós já não nos respeitamo-nos, já não somos irmãos,
somos da velocidade, consumismo, já não confiamos em ninguém, não respeitamos
os mais velhos.”
Se
não há respeito pela pessoa, e pela arte?
“Não
há respeito pela arte, por isso que refugiei-me na cidade de Cabo, aqui o
artista murcha, murchei, aqui enquanto não fazer uma exposição ninguém te dá
valor por mais que se conheça o teu trabalho as pessoas vão te colocando para
trás se não tiver força de vontade as coisas não andam. Só com teu esforço as
coisas acontecem.”
L27
angustiada e preocupada, ainda confessa a dificuldade que se tem de viver de
arte, mas se ela ainda está viva, conclui “é possível viver de arte”.
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