Os Meninos de Ninguém, no Teatro Avenida |
Mutumbela Gogo volta a apresentar, cerca de 20 anos depois, Os meninos de ninguém. Dirigida por Graça Silva e com Manuela Soeiro na produção, por sinal, esta que encenou a peça em 1993, os Meninos de Ninguém vem de qualquer parte. Mas na memória dos moçambicanos nunca saem, afinal, mexem com várias sensibilidades com a sua abordagem cómica do lado mau da condição humana…
O que passam os meninos da
rua? Quem são eles para nós? São respostas desnecessárias para uma sociedade
que não aprende com o tempo. Antes fora a guerra que deslocara milhares de
crianças pelo país a fora, depois foi a própria sociedade que criou focos
estranhos no meio dela própria, com pais que abandonam ou maltratam filhos e
até aqueles meninos que por razões subjectivas a rua lhis apetece.
Cenas de Os Meninos de Ninguém, Mutumbela Gogo |
A companhia Teatral
Mutumbela Gogo que soma agora 27 anos de existência, recorda uma das suas
criações mais destacadas. Os meninos de
ninguém, muitos deles até tem uma história, mas parte dela apaga-se na
memória que se resguarda aos bocados sonhos do futuro. Eles podem até ter tido
família, mas agora tudo isso pouco importa, afinal, na rua, a barriga não pode
escolher, o relento é o único teto. Eles são meninos de ninguém, podem ser
encontrados em qualquer esquina da avenida.
Graça Silva quem está a
dirigir a peça destaca a atemporalidade da temática “são mesmo meninos de
ninguém. Eles estão na rua, então não tem ninguém. E neste país que estamos são
ninguém. Trata-se de meninos de rua que alguém tem que tomar conta deles. Elas
são crianças, as flores que nunca murcham, são não cuidarmos delas, podem
murchar. São o futuro do país. Portanto se deixam essas crianças na rua, também
o país será uma miséria.”
Volvidos cerca de 21 anos em
que a peça foi apresentada, o elenco até converge em alguns actores como,
Adelino Branquinho, Jorge Vaz e a própria Graça Silva. Mas havia uma
necessidade – pela própria política adoptada pelo Mutumbela Gogo de se manter
constantemente uma escola de teatro – de colocar o sangue novo. Tal é o caso da
actriz Arlete Mabombo para quem representar a personagem Xidjana, como são
tratados discriminadamente os albinos, constitui um grande desafio. “Pode até
não ser muito visível hoje, mas existe a descriminação. Há cerca de 20 anos
alguém representou este papel e não era eu, então é um grande desafio.”
Afirmou.
Arlete Guilhermino e Graça Silva em palco |
Xidjana é uma criança como
qualquer outra, viveu com os pais, mas a mãe é uma mulher sempre doente. Por
outro lado o pai rejeita-a afirmando que não é sua filha – por se tratar de uma
albina “e as crianças não precisam de muitos motivos para sair de casa, as
vezes elas sentem-se livres na rua porque lá não há fronteiras. E na rua a vida
é bastante complicada para uma rapariga. Ela fica sujeita a várias coisas e tem
que buscar forças dentro dela mesma para sobreviver. Essa é a vida da Xidjana”
acrescentou Arlente Guilhermino.
A miséria e abandono são os
males porque passam muitas crianças neste país (problema que não foi
ultrapassado desde 1993 altura que foi estreada a peça). A ideia dos actores em
representação é criar uma república autónoma e acima de tudo livre e feliz,
apesar das vicissitudes. Onde há muitas caras, o polícia, o velho catador de
lixo, até como o que não tem o braço e a criança albina.
Tal como Arlete, Horácio
Mazuze é outro sangue novo chamado para ser um dos “meninos de ninguém”. Aqui
tem a face de Mandioca: “ele foge de casa vive na rua, mas depois ganha
consciência e volta ao convívio familiar”, tal sorte que não é de muitas
crianças.
Adelinho Branquinho, actor |
Esta forma com que se
apresenta Os meninos de ninguém é
também a continuação do exercício que tem sido feito pelo Mutumbela Gogo nos
últimos tempos, o de que fortificar o convívio entre célebres nomes do teatro
moçambicano, com o sangue novo. Contracenar ao lado de nomes como Adelino
Branquinho é um momento Homo. Ele próprio o decano do teatro moçambicano, quem
conhece os cantos e os cenários do Teatro Avenida, fala das competências de um
mestre ao lado dos mais novos.
“É uma responsabilidade,
afinal temos que mostrar o melhor de modo que eles retenham o melhor. Passados
20 anos, tenho a mesma responsabilidade no palco e a mesma energia, é isso que
quero passar aos ‘mais velhos’”.
Os meninos de ninguém, com
Graça Silva, Adelino Branquinho, Jorge Vaz, Félix Mambucho, Horácio Mazuze,
Arlete Gulhermino e Flávio Mabote. Para ver durante todos os sábados e domingos
do mês de Abril no Teatro Avenida.
atencao beira
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