quinta-feira, 1 de maio de 2014

MUTUMBELA GOGO: EXIBI “OS MENINOS DE NINGUÉM” 21 ANOS DEPOIS

Os Meninos de Ninguém, no Teatro Avenida

 Mutumbela Gogo volta a apresentar, cerca de 20 anos depois, Os meninos de ninguém. Dirigida por Graça Silva e com Manuela Soeiro na produção, por sinal, esta que encenou a peça em 1993, os Meninos de Ninguém vem de qualquer parte. Mas na memória dos moçambicanos nunca saem, afinal, mexem com várias sensibilidades com a sua abordagem cómica do lado mau da condição humana…

O que passam os meninos da rua? Quem são eles para nós? São respostas desnecessárias para uma sociedade que não aprende com o tempo. Antes fora a guerra que deslocara milhares de crianças pelo país a fora, depois foi a própria sociedade que criou focos estranhos no meio dela própria, com pais que abandonam ou maltratam filhos e até aqueles meninos que por razões subjectivas a rua lhis apetece.

Cenas de Os Meninos de Ninguém, Mutumbela Gogo

A companhia Teatral Mutumbela Gogo que soma agora 27 anos de existência, recorda uma das suas criações mais destacadas. Os meninos de ninguém, muitos deles até tem uma história, mas parte dela apaga-se na memória que se resguarda aos bocados sonhos do futuro. Eles podem até ter tido família, mas agora tudo isso pouco importa, afinal, na rua, a barriga não pode escolher, o relento é o único teto. Eles são meninos de ninguém, podem ser encontrados em qualquer esquina da avenida.

Graça Silva quem está a dirigir a peça destaca a atemporalidade da temática “são mesmo meninos de ninguém. Eles estão na rua, então não tem ninguém. E neste país que estamos são ninguém. Trata-se de meninos de rua que alguém tem que tomar conta deles. Elas são crianças, as flores que nunca murcham, são não cuidarmos delas, podem murchar. São o futuro do país. Portanto se deixam essas crianças na rua, também o país será uma miséria.”
Volvidos cerca de 21 anos em que a peça foi apresentada, o elenco até converge em alguns actores como, Adelino Branquinho, Jorge Vaz e a própria Graça Silva. Mas havia uma necessidade – pela própria política adoptada pelo Mutumbela Gogo de se manter constantemente uma escola de teatro – de colocar o sangue novo. Tal é o caso da actriz Arlete Mabombo para quem representar a personagem Xidjana, como são tratados discriminadamente os albinos, constitui um grande desafio. “Pode até não ser muito visível hoje, mas existe a descriminação. Há cerca de 20 anos alguém representou este papel e não era eu, então é um grande desafio.” Afirmou.
Arlete Guilhermino e Graça Silva em palco
Xidjana é uma criança como qualquer outra, viveu com os pais, mas a mãe é uma mulher sempre doente. Por outro lado o pai rejeita-a afirmando que não é sua filha – por se tratar de uma albina “e as crianças não precisam de muitos motivos para sair de casa, as vezes elas sentem-se livres na rua porque lá não há fronteiras. E na rua a vida é bastante complicada para uma rapariga. Ela fica sujeita a várias coisas e tem que buscar forças dentro dela mesma para sobreviver. Essa é a vida da Xidjana” acrescentou Arlente Guilhermino.

A miséria e abandono são os males porque passam muitas crianças neste país (problema que não foi ultrapassado desde 1993 altura que foi estreada a peça). A ideia dos actores em representação é criar uma república autónoma e acima de tudo livre e feliz, apesar das vicissitudes. Onde há muitas caras, o polícia, o velho catador de lixo, até como o que não tem o braço e a criança albina.
Tal como Arlete, Horácio Mazuze é outro sangue novo chamado para ser um dos “meninos de ninguém”. Aqui tem a face de Mandioca: “ele foge de casa vive na rua, mas depois ganha consciência e volta ao convívio familiar”, tal sorte que não é de muitas crianças.


Adelinho Branquinho, actor
Esta forma com que se apresenta Os meninos de ninguém é também a continuação do exercício que tem sido feito pelo Mutumbela Gogo nos últimos tempos, o de que fortificar o convívio entre célebres nomes do teatro moçambicano, com o sangue novo. Contracenar ao lado de nomes como Adelino Branquinho é um momento Homo. Ele próprio o decano do teatro moçambicano, quem conhece os cantos e os cenários do Teatro Avenida, fala das competências de um mestre ao lado dos mais novos.
“É uma responsabilidade, afinal temos que mostrar o melhor de modo que eles retenham o melhor. Passados 20 anos, tenho a mesma responsabilidade no palco e a mesma energia, é isso que quero passar aos ‘mais velhos’”.
Os meninos de ninguém, com Graça Silva, Adelino Branquinho, Jorge Vaz, Félix Mambucho, Horácio Mazuze, Arlete Gulhermino e Flávio Mabote. Para ver durante todos os sábados e domingos do mês de Abril no Teatro Avenida.

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