Cantora Rahima, uma revelação que vem desde há muito |
Quando a jovem compositora e intérprete moçambicana,
Rahima, canta a sua música invade as nossas entranhas e, em resultado disso,
dependendo das circunstâncias, o nosso espírito e a alma (desas)sossegam. A sua
arte musical marca presença. Esta mulher não pode passar despercebida...
Na música moçambicana, Rahima é jovem de idade e de
carreira. No entanto, a maneira pouco formal com que se nos chega ao cenário
das artes moçambicanas – a realçar a sua performance – com uma voz incrível não
dá para ignorar. Faz alguma diferença.
Na verdade, a relação de Rahima com a música pode ser bem
antiga mas catapulta-se na mesma época em que em Moçambique se instala uma nova
vaga de estilos musicais dentre os quais podemos citar o Pandza e a Dzukuta.
Esta cantora apercebe-se do cenário, não o ignora, mas opta pela diferença
explorando o Afro-Jazz, género que lhe possibilita fundir instrumentos da
música tradicional africana com os contemporâneos.
Há realidades que quando se manifestam deixam algumas
dúvidas diante das pessoas que as acompanham. Este não é o caso de Rahima.
Senão, um certo aporte segundo o qual, “na minha vida, a música possui um
espaço cativo”, como a artista considera, não faria muito sentido.
A verdade é que, nos dias actuais, decorreram 13 anos
desde que a voz de Rahima – que se aguçara na cidade de Quelimane, província de
Zambézia, com a bem conhecida banda Garimpeiros – procura impor-se como válida
no país. Aliás, correndo atrás desta pretensão, em Maputo Rahima associou-se
aos nostálgicos Mabulo, um conjunto musical do qual (também) fizeram parte
conhecidos artistas como, por exemplo, Dilon Djindje, Mr. Arsen, Chiquito,
António Marcos, Lisboa Matavele e Chonil.
A artista que criou músicas como Moya e Buyissa Nwananga,
começando a atrair a atenção de vários ouvintes, prefere narrar o seu
envolvimento com a música com as seguintes palavras: “A minha carreira musical
inicia-se na banda Garimpeiros, mais adiante conheci o director musical dos
Mabulo, Roland, mas, na mesma ocasião, apreciava o estilo de música que se
aproxima ao Jazz feito por José Maria Neves, o líder da banda Pazebe. Foi por
essa razão que as minhas influências em relação ao Afro-Jazz começam a consolidar-se”.
De uma ou de outra forma, é importante notar que Rahima
não se isola no Afro-Jazz, o seu estilo musical favorito, explorando por isso
outros géneros praticados pelos artistas das bandas em que tem participado. É
como ela diz: “sou uma cantora que explora géneros diversificados de música”.
Um
espaço de divulgação
Popularizada através do maior programa de música
moçambicana, o Ngoma Moçambique, produzido e realizado pela Rádio Moçambique,
Rahima é mais uma vítima da indiferença que as rádios comerciais (nas quais o
que se precisa para transmitir ao ouvinte, outra vítima, são as ditas músicas
comerciais, de uma produção apressada e de baixo custo e qualidade) manifestam
em relação à sua publicação e promoção.
De uma ou de outra forma, porque sempre existe algum
ouvido atento, bem-educado e curioso, a sua produção musical acaba por superar
todos os obstáculos referidos para se impor na sociedade, mesmo numa situação
em que Rahima ainda não foi premiada no Ngoma Moçambique em nenhuma categoria.
“Aprecio o trabalho que o Ngoma Moçambique faz. Sinto que
este programa acaba por se configurar um espaço de divulgação e promoção do que
se faz no país em volta da música. É nesse sentido que concorro. Devo referir
que foi a partir do mesmo programa que algumas das minhas músicas se tornaram
(mais) conhecidas e apreciadas”, comenta Rahima.
A
luta continua
A nossa constatação na conversa com Rahima foi que
estávamos diante de uma mulher batalhadora e incansável. Ela trabalha no sector
da música – com uma notável seriedade – desde os finais da década de 1990.
Na verdade, são 13 anos de carreira, no entanto, ainda
que tenha várias composições gravadas e dispersas, a artista ainda não
conseguiu compactá-las para formar o seu primeiro trabalho discográfico. Se
permanece na carreira é porque, em parte, consegue controlar a sua ansiedade
fazendo do seu optimismo o motor das suas expectativas e acções. Aliás,
conforme diz, nessa luta ela não pode nem deve desistir. Afinal, para si,
“nessa vida todos merecemos conquistar algo”.
Inspirada por esse espírito, nos dias que correm, Rahima
conta pelo menos com um vídeo gravada do seu rico espólio de produção musical.
Trata-se do tema Buyissa Mwananga.
Para compreender as dificuldades por que muitos artistas
moçambicanos passam para a publicação dos seus trabalhos discográficos, Rahima
pode servir de exemplo: “Sou a gerente da minha própria carreira. Em resultado
disso, tudo o que em volta disso realizo é financiado pelo dinheiro do meu
esforço individual. Ou seja, não tenho nenhum patrocinador”.
É em função desta realidade que o desejo dos seus fãs e
da sociedade em geral de explorar as suas obras fica protelado. É que Rahima,
ainda que reconheça que isso é um sonho, afirma: “não tenho a ideia de lançar
do meu disco para muito cedo, porque tal exige elevadas somas de dinheiro, de
que não disponho. Mas como a fé e a minha esperança mantêm-se vivas acredito
que algum dia irei conseguir realizar o dito desiderato”.
De uma ou de outra forma, em resultado do esforço pouco
reconhecido que esta artista faz em prol da música, de um aspecto Rahima
pode-se congratular: “Ainda que o dinheiro que (também) é bom não consigo tê-lo
a partir dos trabalhos que faço, a música dá-me esperança, amor e satisfação
pessoal”.
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