Na passada quarta-feira contornei destinos deste nosso
escasso tempo para chegar à Matola, concretamente, ao Instituto Superior de
Artes e Cultura (ISArC) a fim de participar do interessantíssimo (importantíssimo)
debate sobre “Que critérios são usados para a selecção das notícias sobre
Cultura VS A Comunicação Social na
valorização das artes e cultura em Mocambique” encabeçado pelos jornalistas
Belmiro Adamugy, subchefe da redacção do jornal “Domingo”, Gil Filipe, editor
de Cultura no jornal “Notícias” e Policárpio Mapengo, antigo editor do “O País”
fim-de-semana (edição do diário O País que virado assuntos culturais).
A priori,
trata-se de um painel digno da “gravidade”do assunto que se propunha discutir,
afinal trata-se de pessoas lidas e conhecidas no jornalismo cultural nacional
e, de certa forma, jornalistas que tem mantido a fidelidade a essa área
jornalística, um facto a elogiar.
Mas facto curioso quando recebi o comunicado de imprensa
emitido pelo ISArC a anunciar o evento, antecedendo qualquer um dos nomes que
me referi, estava a palavra “conceituados jornalistas”, para o meu susto.
Bem, nem é verdade que me assustei com o termo, até
porque à semelhança das frases “jovem escritor” “consagrado músico”, etc,
acostumei-me a ouvir e a ler, forçado por vários veículos de informação e até
por expressões populares (já que o jornalista tem o poder de influenciar as
massas). Aliás, já noutro dia, assustei-me quando um colega do curso de
jornalismo disse uma vez ao ler a biografia do Mia Couto que ele mesmo foi quem
fez a recolha e que dizia “Mia Couto é um malogrado escritor moçambicano (…)”,
na tentativa dessa descrição das fontes, afinal, muitas vezes algumas dessas
“nossas” afirmações são empíricas(?).
Contudo, continuei ledo o comunicado até que cheguei a
parte mais importante, o evento que teria de acontecer as 14 horas no
Anfiteatro do ISArC, no Município da Matola. Na verdade, apesar de minha
disposição para ler todo o documento, o que era importante mesmo, era conservar
o local, a hora, o assunto e os protagonistas.
Realmente o assunto interessava-me (como ainda me
interessa), “interessa a todos jornalistas que escrevem sobre assuntos
culturais”, também pensei. Sobre o último aspecto, enganei-me, mais uma vez, o
assunto só interessava a mim e não a todos jornalistas culturais e muito menos
ainda, os jornalistas que escrevem sobre assuntos culturais. Não interessava o
assunto, pelo que notei, se quer aos estudantes do ISArC que naquela tarde
aliviaram-se mais cedo das aulas, com alguns pautando pela sinceridade de se
irem embora e outros, fazendo o bonito papel de se sentarem nas cadeiras e
apenas olharem aos oradores com o orgasmo virado à curiosidade que não
conseguem satisfazer nem por motivos educacionais. Falo da curiosidade sobre o
que se publica por exemplo num suplemente cultural do Notícias, muito menos nas
páginas culturais do @Verdade que é um jornal gratuito.
Foi emocionante notar a tamanha ignorância daqueles
estudantes que se quer conseguiam fingir. Aliás, foram à palestra em que a
instituição escolheu aqueles oradores por achar que são os mais possíveis de se
conhecer, sem se querem terem lido o jornal do dia (coincidentemente era
quarta-feira e tinha saído o suplemento cultural do Notícias) e se quer leram
os jornais durante a semana passada. Isso foi possível apurar devido a
curiosidade de um dos seus docentes que colocou a questão depois de notar que
os estudantes faziam perguntas descabidas que apenas favoreciam para
aborrecimento. Perguntando, igualmente, se teriam lido ou não a trinta dias ou
um ano antes daquela palestra, acredito, na mesma diriam que não.
O incrível é que hoje, neste Moçambique que se aproxima
da internet aos empurrões, já se pode ler alguns dos principais jornais sem
pagar nada, através das páginas virtuais dos mesmos e, isso se quer importa aos
nossos magníficos futuros técnicos superiores!
Portanto, estávamos perante gestores culturais em
formação superior e artistas que se quer conhecem as páginas que falam dos
assuntos da sua área. Estávamos, aliás, diante de estudantes que se quer sabem
das coisas que se passam a sua volta e no mundo. Estávamos por fim, perante
estudantes do ensino superior, que formar-se-ão durante muito tempo e só
procurarão o jornal para verem anúncios de vagas, pois não? Pareceu-me que sim,
que tal como acontece hoje em quase todas bibliotecas da cidade, daqui a
quatro/cinco anos teremos mais ainda, leitores de anúncios do que de informação
que lhes será útil como pessoas inseridas numa sociedade.
É altura de se reflectir seriamente sobre este estudante
e sobre assuntos que queremos colocá-los a discutir porque, se calhar, já
precisarão de fazer cábulas ou copiar ao colega até em palestras em que são
livres de expor o seu conhecimento com a intenção de arrancar o máximo que
podem dos oradores que lhes estão à disposição.
Há males que se podem digerir ferindo a garganta sem
ferir o estômago, mas o mal do ensino/estudante leva-nos à loucura. Muitas
vezes o que é fatal dessa ignorância é a forma serena com agimos perante a ela.
Mas o mal maior é perceber da triste realidade que
vivemos, em que há aqueles que se dizem jornalistas culturais a encher as salas
de hotéis em conferências de imprensa, colocando perguntas para marcar
presença, mas que quando é hora de dizer o que são se quer esmurram-se nos
corredores para mostrarem o que vele.
É como disse Adamugy “muitas vezes vou ao teatro e quando
olho para a plateia e não vejo actores a assistir a peça, aos espectáculos de
música também os músicos não vão, ou então há um presente, mas escondido num
cantinho para não ser visto. Mas que espectáculo pode esperar de um artista que
não vai assistir ao seu colega? Será a apresentação daquilo que o outro já fez,
ele pensando que é o primeiro”
Ficou uma lição daquele encontro que podia ter sido
melhor, mas já que não foi desta, se calhar numa conferência de imprensa as 18h
num desses sítios com cocktails e perguntas insanas a mistura da palhaçada dos
promotores de eventos/artistas que ficam horas a fio olhando os jornalistas a
espera da imprensa. Contudo é importante ler a todos eles, para se saber quem é
quem, como diz o povo.
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