sexta-feira, 21 de setembro de 2012

A PALESTRA DOS “CONSAGRADOS” AOS ESTUDANTES DO ISArC


Na passada quarta-feira contornei destinos deste nosso escasso tempo para chegar à Matola, concretamente, ao Instituto Superior de Artes e Cultura (ISArC) a fim de participar do interessantíssimo (importantíssimo) debate sobre “Que critérios são usados para a selecção das notícias sobre Cultura  VS A Comunicação Social na valorização das artes e cultura em Mocambique” encabeçado pelos jornalistas Belmiro Adamugy, subchefe da redacção do jornal “Domingo”, Gil Filipe, editor de Cultura no jornal “Notícias” e Policárpio Mapengo, antigo editor do “O País” fim-de-semana (edição do diário O País que virado assuntos culturais).
A priori, trata-se de um painel digno da “gravidade”do assunto que se propunha discutir, afinal trata-se de pessoas lidas e conhecidas no jornalismo cultural nacional e, de certa forma, jornalistas que tem mantido a fidelidade a essa área jornalística, um facto a elogiar.
Mas facto curioso quando recebi o comunicado de imprensa emitido pelo ISArC a anunciar o evento, antecedendo qualquer um dos nomes que me referi, estava a palavra “conceituados jornalistas”, para o meu susto.
Bem, nem é verdade que me assustei com o termo, até porque à semelhança das frases “jovem escritor” “consagrado músico”, etc, acostumei-me a ouvir e a ler, forçado por vários veículos de informação e até por expressões populares (já que o jornalista tem o poder de influenciar as massas). Aliás, já noutro dia, assustei-me quando um colega do curso de jornalismo disse uma vez ao ler a biografia do Mia Couto que ele mesmo foi quem fez a recolha e que dizia “Mia Couto é um malogrado escritor moçambicano (…)”, na tentativa dessa descrição das fontes, afinal, muitas vezes algumas dessas “nossas” afirmações são empíricas(?).
Contudo, continuei ledo o comunicado até que cheguei a parte mais importante, o evento que teria de acontecer as 14 horas no Anfiteatro do ISArC, no Município da Matola. Na verdade, apesar de minha disposição para ler todo o documento, o que era importante mesmo, era conservar o local, a hora, o assunto e os protagonistas.
Realmente o assunto interessava-me (como ainda me interessa), “interessa a todos jornalistas que escrevem sobre assuntos culturais”, também pensei. Sobre o último aspecto, enganei-me, mais uma vez, o assunto só interessava a mim e não a todos jornalistas culturais e muito menos ainda, os jornalistas que escrevem sobre assuntos culturais. Não interessava o assunto, pelo que notei, se quer aos estudantes do ISArC que naquela tarde aliviaram-se mais cedo das aulas, com alguns pautando pela sinceridade de se irem embora e outros, fazendo o bonito papel de se sentarem nas cadeiras e apenas olharem aos oradores com o orgasmo virado à curiosidade que não conseguem satisfazer nem por motivos educacionais. Falo da curiosidade sobre o que se publica por exemplo num suplemente cultural do Notícias, muito menos nas páginas culturais do @Verdade que é um jornal gratuito.
Foi emocionante notar a tamanha ignorância daqueles estudantes que se quer conseguiam fingir. Aliás, foram à palestra em que a instituição escolheu aqueles oradores por achar que são os mais possíveis de se conhecer, sem se querem terem lido o jornal do dia (coincidentemente era quarta-feira e tinha saído o suplemento cultural do Notícias) e se quer leram os jornais durante a semana passada. Isso foi possível apurar devido a curiosidade de um dos seus docentes que colocou a questão depois de notar que os estudantes faziam perguntas descabidas que apenas favoreciam para aborrecimento. Perguntando, igualmente, se teriam lido ou não a trinta dias ou um ano antes daquela palestra, acredito, na mesma diriam que não.
O incrível é que hoje, neste Moçambique que se aproxima da internet aos empurrões, já se pode ler alguns dos principais jornais sem pagar nada, através das páginas virtuais dos mesmos e, isso se quer importa aos nossos magníficos futuros técnicos superiores!
Portanto, estávamos perante gestores culturais em formação superior e artistas que se quer conhecem as páginas que falam dos assuntos da sua área. Estávamos, aliás, diante de estudantes que se quer sabem das coisas que se passam a sua volta e no mundo. Estávamos por fim, perante estudantes do ensino superior, que formar-se-ão durante muito tempo e só procurarão o jornal para verem anúncios de vagas, pois não? Pareceu-me que sim, que tal como acontece hoje em quase todas bibliotecas da cidade, daqui a quatro/cinco anos teremos mais ainda, leitores de anúncios do que de informação que lhes será útil como pessoas inseridas numa sociedade.
É altura de se reflectir seriamente sobre este estudante e sobre assuntos que queremos colocá-los a discutir porque, se calhar, já precisarão de fazer cábulas ou copiar ao colega até em palestras em que são livres de expor o seu conhecimento com a intenção de arrancar o máximo que podem dos oradores que lhes estão à disposição.
Há males que se podem digerir ferindo a garganta sem ferir o estômago, mas o mal do ensino/estudante leva-nos à loucura. Muitas vezes o que é fatal dessa ignorância é a forma serena com agimos perante a ela.
Mas o mal maior é perceber da triste realidade que vivemos, em que há aqueles que se dizem jornalistas culturais a encher as salas de hotéis em conferências de imprensa, colocando perguntas para marcar presença, mas que quando é hora de dizer o que são se quer esmurram-se nos corredores para mostrarem o que vele.
É como disse Adamugy “muitas vezes vou ao teatro e quando olho para a plateia e não vejo actores a assistir a peça, aos espectáculos de música também os músicos não vão, ou então há um presente, mas escondido num cantinho para não ser visto. Mas que espectáculo pode esperar de um artista que não vai assistir ao seu colega? Será a apresentação daquilo que o outro já fez, ele pensando que é o primeiro”
Ficou uma lição daquele encontro que podia ter sido melhor, mas já que não foi desta, se calhar numa conferência de imprensa as 18h num desses sítios com cocktails e perguntas insanas a mistura da palhaçada dos promotores de eventos/artistas que ficam horas a fio olhando os jornalistas a espera da imprensa. Contudo é importante ler a todos eles, para se saber quem é quem, como diz o povo.   

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