segunda-feira, 1 de novembro de 2010
Ministro da Cultura exonera David Abílio
Por Eduardo Quive
Em comunicado oficial enviado à nossa redacção pelo Ministério da Cultura, o “vitalício” David Abílio já não é director da Companhia Nacional de Canto e Dança (CNCD). Esta decisão tida como “corajosa” de Armando Artur, terá sido impulsionada pela denunciada gestão “danosa” da CNCD imputada a David Abílio.
O gabinete do ministro da Cultura, Armando Artur, deu a conhecer por via de um comunicado a cessação e nomeação de dirigentes de diferentes sectores do seu ministério.
Armando Artur nomeou os novos dirigentes no âmbito da reestruturação do Ministério da Cultura, visando conferi-lo um quadro operativo dinâmico em resposta às competências conferidas pelo Decreto presidencial nº 5/2010 e nos termos da Resolução nº 27/2010 de 13 de Outubro que aprova o Estatuto Orgânico do Ministério da Cultura.
Assim ficamos a saber que quase que “vitalício” David Abílio, está fora do comando da CNCD, passando para o seu lugar, provisoriamente, Agostinho Xadreque.
Suposta gestão danosa da CNCD terá ditado a exoneração de David Abílio
O Escorpião, terá destacado na sua 129ª edição, a denúncia feita pelos funcionários da CNCD, através de uma carta anónima datada de 10 de Setembro de 2010, na qual consta que a mesma havia sido enviada, para Procuradoria-Geral da República, tendo seguidamente sido enviada para diferentes redacções.
Na carta cujo conteúdo recordamos, “os funcionários da CNCD denunciam irregularidades e injustiças nas progressões e promoções, acusando o seu director, David Abílio de “monopolizar” a instituição e instituir poderes aos amigos e familiares, com o maior destaque para a sua esposa, Pérola Jaime Matsinhe.
Os funcionários diziam na carta de “volvidos anos em abandono, o Estado moçambicano criou condições para promoções e progressões, o que nos dava esperança de ver reposta à justiça, porém, somos surpresos pela negativa, quando há mais de 25 anos de trabalho, vimos a caravana passar e continuamos estagnados e a ganharmos miséria”.
“É por estes e outros problemas que pedimos encarecidamente a quem é de direito, que nos ajude a sair deste impasse. David Abílio usa amizades e familiaridades para distribuir benefícios…”, alude a carta a respeito das progressões e promoções, que segundo os trabalhadores, não obedecem um modelo definido.
“Pérola Jaime Matsinhe, esposa de David Abílio trata os colegas bailarinos como empregados dela, insulta-lhes durante os ensaios, berra com eles porque goza da protecção do esposo”.
“Todos os benefícios da companhia revertem-se, em primeiro plano para Abílio e sua dama Pérola e depois seguem-se os corruptos chefes de departamentos como lambebotas”, afirma a carta.
Desta feita, o Escorpião procurou, na altura em que o caso foi despoletado, ouvir do próprio director da companhia, David Abílio, a respeito das acusações que já eram de domínio público.
David Abílio disse ao Escorpião do dia 18 de Outubro de 2010, “que não se trata de um documento anónimo que circulou nos Media, mas de acto de difamação tendenciosa do colega João Tiago Julião e tudo é falsidades e mentiras contra mim”.
Para justificar aquilo que considera de principal problema colocado na carta por Julião, David Abílio disse que “este funcionário que reclama promoção e progressão, em 2005 era chefe de repartição, tendo sido afastado por não ter correspondido às exigências e expectativas, mas nunca lhe foi retirado o salário que ganhava como chefe, justamente, por causa desta consideração pelo tempo que tem na companhia que lhe confere o respeito por antiguidade”.
O ex-director da CNCD disse que não estava no cargo há 20 anos mas há 12 anos, após suceder Álvaro Zumbire que esteve na direcção desta de 1983 a 1986, altura em que a companhia ficou sem dirigente até 1990.
É a partir daqui onde surge a margem da dúvida, pois se a CNCD ficou sem dirigente de 1986 até 1990, quem a dirigiu até à nomeação de David Abílio em 1998?
Esta pergunta foi colocada ao Abílio via telefónica às 14:02 horas do dia 13 de Outubro de 2010, com a duração de dois minutos e 54 segundos, na qual respondeu, sem deixar referência, que “houve tempo em que a CNCD não era reconhecida pelo governo”.
Não avançou se teria sido entre 1990 e 1998, anos que tomou o poder, segundo a confrontação dos dados em nosso conhecimento.
No mesmo dia 13 deste mês, o porta-voz do Ministério da Cultura, Boaventura Afonso, que também foi exonerado do cargo de director do Instituto Nacional do Livro e do Disco, que falou com jornalistas em conferência de imprensa numa segunda-feira da mesma semana, nos concedeu uma entrevista por telefone, às 14:19, com a duração de 13 minutos e 53 segundos, na qual desmentiu categoricamente que a Companhia Nacional de Canto e Dança “nunca existiu sem o reconhecimento do governo moçambicano.”
Entretanto, resta-nos saber quem está faltar à verdade, diante da tamanha contradição. Por um lado, coloca em questão, o tempo de reinado de David Abílio e por outro, coloca em questão o reconhecimento profundo da realidade da companhia por parte do governo.
Contudo, há uma questão em falta: quem é João Tiago Julião? E o que será feito dele, depois de supostamente ter colocado em circulação esta carta que denuncia alegados problemas de má gestão da CNCD?
Sobre estas questões, ninguém do ministério do Armando Artur, manifestou-se, sendo que ainda permanece a dúvida, entre nós e, com certeza, nem o resto dos moçambicanos conhecem a verdade.
Entretanto, a notícia da retirada do David Abílio deste cargo, não acompanhou-se de nenhuma justificação, cabendo-nos aguardar, que se calhar, o ministério venha se pronunciar sobre o assunto na tomada de posse de novos dirigentes.
Director e directora adjunta nacional da cultura também exonerados
Armando Artur, determinou, na primeira oportunidade que teve para tal, a cessação de funções do director Nacional da Cultura, Domingos do Rosário Artur com a sua adjunta, Cândida Mata.
Cessaram as funções, igualmente, o assessor do ministro, Rodrigo Dove, passando para o seu lugar Maria Emília Omar, o director do Instituto Nacional do Livro e Disco, Boaventura Afonso, substituído por Francisco Esaú Cossa, e o director da Escola Nacional de Artes Visuais, Victor Sala, que cessa as funções para Jorge Dias.
Outras nomeações foram as de Arnaldo Vicente Ferrão Bimbe, para o cargo de Inspector-Geral, Roberto André Dove, para o cargo de director Nacional de Acção Artístico-Cultural, Gilberto Paulino Cossa, para o cargo de director Nacional Adjunto de Acção Artístico-Cultura, José Manuel Alberto Pita, para o cargo de director Nacional Adjunto das Indústrias Culturais, Marcos Evaristo Fernando, para o cargo de director Nacional Adjunto do Património Cultural, Judite Machaieie Chereua, para o cargo de chefe do Gabinete, Francisco Plácido Benesse, para o cargo de chefe de Departamento Central de Planificação e Cooperação, Roberto Júlio Cabral, para o cargo de chefe de Departamento Central de Administração e Finanças, Paulino Manuel, para o cargo de chefe de Departamento Central de Recursos Humanos, Vasco Filipe Macudo, para o cargo de chefe de Departamento Jurídico, Jorge Dias, para o cargo director da Escola de Artes Visuais, Cidália Maria Benjamim, para o cargo de chefe do Departamento de Administração e Finanças da Companhia Nacional de Canto e Dança.
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