Tânia Tomé já é
conhecida pelo movimento por si levado a cabo desde 2008, denominado
“showesia”. De acordo com a poesia, showesia são as várias artes em intercâmbio
simultâneo no mesmo palco tornando a poesia viva.
Esse conceito já é
conhecido e através do qual, Tânia Tomé tem se feito presente em vários fóruns.
Numa ponte com esse conceito aliamos o primeiro livro da autora, intitulado
“Agarra-me o sol por trás” onde encontramos essa mistura que se tornou necessária
para a expressão poética da Tânia.
Em “Agarra-me o sol
por trás” a poesia converge com as outras artes como a dança, a música tornando
o corpo um elemento indispensável. Aliás, o grau erótico dessa poesia,
primeiro, é o que leva-nos ao corpo. O corpo como essa forma de dizer palavras,
produzir efeitos melódicos e atiçar a sensibilidade. O corpo, esse elemento de
expressar o que a alma sente. Tânia Tomé faz-se mulher através dessa expressão
ao mesmo tempo que faz-se o país ou o continente: “Minha África suburbana./ Eu
sei-me Moçambique,/ cisterna no pecúlio dos deuses. /Um Zambeze inteiro escala
a língua/ escorre-me pelas pernas/ ramifica nos canhoeiros,/ laça os peixes
inquietos nas sementes/ engolfa-se nos mpipis bêbados nas timbilas(…)” (Meu Moçambique, p.57).
Os afectos e os
ritmos dessa poesia levam à celebração no sabor da pátria, seus géneros
musicais, batuques, timbilas, apitos e gentes que dançam. Tânia Tomé canta e
dança numa linguagem verbal cheia de metáforas para com o corpo. Tudo isso será
uma mistura nostálgica, das suas notáveis leituras de poesia de José
Craverinha, de quem herdou a utilização dos ritmos tradicionais, desde os nomes
e a aproximação à oralidade nos seus textos.
Seja por isso ainda
erótica, como a maioria das mensagens das músicas no estilo tradicional, onde o
conflito humano é elemento necessário. O título “Agarra-me o sol por trás”
submete-nos a uma reflexão para dimensões subjectivas da personificação do sol,
aquele que agarra. Portanto, os raios solares, são tratados por Tânia Tomé,
como um elemento de afecto, carícia, em fim, o amor. Logo, sugere-nos ainda, o
sol como um ponto de êxtase e de prazer. O clímax atinge-se no cruzar do verbo
e na poesia musicalizada. As imagens que acompanham os versos, no livro, têm o
mesmo sentido das palavras, uma combinação versátil da poesia em foto e em
papel.
Já disse o
prefaciador da obra, o conhecido escritor brasileiro Floriano Martins que
abraçado com António Cabrita, credenciaram essa poesia-música. Floriano reage à
essa expressão em jeito de estreia de Tânia Tomé como uma presença que
demarca-se das outras no fluir do verso. É um facto que até nos seus mais dois
livros, a poetisa prova o percurso que quer tomar na reservada tradição da
poesia feita por mulheres em Moçambique.
Talvez seja do
factor feminino, a iminência da “terra” nas palavras que fazem o “Agarra-me o
sol por trás”. Não se precisa inventar caminhos para chegar que essa poesia é
de Moçambique. É como disse também o poeta angolano, José Luís Mendonça ao
afirmar “Esse País Chamado Corpo de Mulher”. De resto é só lendo que se pode
provar as águas desse rio imparável que se chama poesia.
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Agarra-me o sol por
trás * Tânia Tomé * 2008 * 99 páginas * Edição da Autora
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