quarta-feira, 7 de setembro de 2011

África Mítica


Cerca de 800 artistas jovens e estudantes viveram três meses de ensaios árduos, para trazer ao grande dia da abertura oficial dos Jogos Africanos - Maputo 2011, um espectáculo que transcende os limites territoriais moçambicanos. O resultado desses meses de aprendizagem para uns, e aplicação para outros, verificou-se pela grandeza do espectáculo proporcionado por estes no Estádio Nacional do Zimpeto perante o mundo inteiro, que esteve com as atenções viradas para o continente africano, particularmente para Maputo.

Trata-se de um conjunto de coreografias que caracterizam as vivências moçambicanas, a história e a diversidade cultural, tanto nacional, como de todo o continente. Aliás, as múltiplas culturas características na África, deram voto ao nome do bailado – “África Mítica”.
De facto provou-se pela qualidade do evento, difícil de explicar, que a África é mítica.
Nunca antes visto, a convergência do Ngalanga, dança da etnia chopi que transmite alegria, acompanhada por Timbila, outro instrumento de grande valor descoberto e muito bem conhecido pelos chopes, proclamado Património Oral e Imaterial da Humanidade pela UNESCO. No Ngalanga, pôde se ver a criativa construção do mapa de Moçambique pelos bailarinos.

Entre os tipos de danças, desfilaram ainda, as danças Makwayi típica da província de Maputo, Gaza, Sofala e Manica, e Mutxongoyo originária de Manica, e por fim o momento de apoteose, ilustrando a dança do hino dos Jogos Africanos.
Foram chamados estes tipos diferentes de dança, para ilustrar os cruciais momentos da vida dos moçambicanos, desde o despertar, onde as pessoas se entregam às diferentes actividades, tendo sido através desta coreografia, demonstrada a vida das comunidades.
De seguida, retratou-se a fase da ocupação colonial, para depois, o nacionalismo e luta pela independência nacional, demonstrando através do ritmo e da dança, a resistência dos moçambicanos à opressão, a importância da unidade nacional, enaltecendo o papel fundamental de Eduardo Mondlane.
Por fim, o bailado ilustrou a celebração da independência nacional, através da dança Makwayi e Mutxongoyo, unindo as províncias, o que representa igualmente a solidariedade entre outros valores que resultam dos jogos africanos.

Trabalho árduo mas honroso e elogiado 
Párola Jaime coreógrafa

Foram meses de ensaios entre a selecção de bailarinos, arranjos técnicos, até ao que se viu no Estádio Nacional do Zimpeto naquela noite, que se pode considerar mágica ou mesmo e porquê não, a noite duma “África Mítica”.
Pérola Jaime, foi quem assumiu esse desafio de montar a tal coreografia que emocionou o País, a África e o Mundo. O Escorpião conversou com ela, para perceber dos percursos que marcaram a montagem do bailado.
“Com este bailado, vamos contar a história de Moçambique, que acredito que é uma história similar doutros povos africanos. Vamos contar desde antes da colonização, a era colonial, a luta de libertação, a independência e as nossas conquistas”.
Segundo Pérola Jaime, a maioria dos jovens que participam do bailado já tinham algum envolvimento com a dança, mas outros aprenderam durante os ensaios pelo talento que tem. Ainda, maior número destes faz parte de grupos culturais de Maputo.
“Embora muitos jovens não aderissem tanto as danças tradicionais. Acredito que a partir de já, estão envolvidos com este tipo de dança porque viram o seu valor”.
Já os jovens bailarinos que transmitiram ao mundo a magia das danças tradicionais moçambicanas, disseram estar satisfeitos pelo seu envolvimento na maior festa de desporto do continente.
Celestino Hélder é um exemplo de quem tinha como hábito fazer dança tradicional num grupo na capital do País, mas chegou-lhe a oportunidade de se entregar para outras viagens. Entrou para o grupo dos bailarinos que se apresentaram na abertura oficial dos Jogos Africanos e por isso sente-se orgulhoso.
Quem sempre foi praticante das danças tradicionais, é Abelardo Maunde do bairro Patrice Lumumba, fundador de um grupo tradicional chamado Xiluva Xa África.
Este jovem de longos anos de experiência, sente-se num dos momentos mais altos de uma carreira que ainda está em construção. E por isso, deu o seu melhor para honrar a sua participação no grande evento.
Carolina Lourenço não dança, mas com as suas mãos faz dançar. Compôs a grande orquestra que a acompanha com os sons dos batuques a coreografia.
“Sinto-me feliz por participar desta grande abertura. Tocar para o mundo é a realização de um sonho e nisso dou o meu melhor.” Disse.

Músicos felizes por fazerem parte da abertura dos Jogos Africanos

Aly Faque
Sinto-me orgulhoso por representar o meu País. É uma altura para fazer com que a cultura e as artes moçambicanas sejam conhecidas pelo mundo inteiro. Abrilhantei o público com aquilo de bom que já se conhece da música e que faço.

Mahel
Antes de tudo sou moçambicano, amo o meu País e sou orgulhosamente moçambicano. Moçambique está a precisar desta oportunidade, e todo mundo está com as expectativas viradas para nós, temos aqui vários países presentes com essa toda força, e é agora que temos que mostrar que somos um País organizado.  É bom para as pessoas não só assistirem aos Jogos Africanos, mas conhecer uma nova cultura, nova música e novos artistas, conhecer um povo diferente e provar que Moçambique é um País melhor.
Para mim este dia foi o melhor que já aconteceu por uma grande razão, que é a de que Moçambique está a crescer, e espero que vençamos os Jogos.
A arte é uma grande ponte para a união dos povos, porque onde ela existe transporta-se energia, conhecimentos e rituais culturais. Pessoas que gostam do desporto, gostam das artes e cultura, e muitas outras coisas. Acho que em todos os aspectos Moçambique vai crescer.

Casimiro Nhussi
Acho bom que se tenham exibido vários artistas nesta cerimónia. É importante que se envolva a arte e os artistas em eventos como estes, isto pode se ver nos outros países onde se realizam jogos, que a arte é um grande potencial. Estou feliz por ter sido convidado para este grande momento que o País vive.

David Abílio Mondlane – Ministério da Cultura
Desde sempre dissemos que a arte e o desporto não podem estar dissociados, e muito particularmente este momento de uma grande festa. Estes jogos são uma grande festa africana, e não se faz a festa sem a cultura, e é por isso que seleccionámos alguns artistas para fazer a abertura dos jogos africanos, e dizer à todas delegações bem-vindos e estamos todos unidos.
É Moçambique no seu melhor a unir as artes, e principalmente a unir os povos para engrandecer este acontecimento, pois, o desporto é a união e solidariedade. A cultura também tem o seu papel nisso.

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