segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

Moçambique avança na criação da vacina contra Malária

Uma criança recebendo cuidados médicos
Numa dissertação sobre vários temas científicos, Jahit Sacarlal, investigador principal e coordenador do Centro de Desenvolvimento da Vacina Contra a Malária no distrito da Manhiça (CDVCM) ao mesmo tempo docente da Faculdade de Medicina da Universidade Eduardo Mondlane (UEM), falou do actual estágio desta inovação que vai servir igualmente a África sub-sahariana. O evento foi recentemente promovido pela Academia de Ciências de Moçambique, onde discutiu-se, igualmente, o aumento do acesso a energia na região.

Por Eduardo Quive

A Malária continua sendo o principal desafio para a Saúde Pública e para o desenvolvimento sustentável em Moçambique. Com base nos dados dos últimos cinco anos do Sistema de Vigilância Epidemiológica (Boletim Epidemiológico Semanal, BES), malária conta com uma média de 5,8 milhões de casos diagnosticados clinicamente por ano, sendo a principal razão de consulta externa (44%) e de internamento no serviço de pediatria (57%) e com alta taxa de letalidade (variação de 1.8% a 9.9%, dependendo do nível da unidade sanitária).

Para além do impacto directo na saúde, existe um peso socioeconómico enorme nas comunidades e no país em geral, particularmente para os segmentos populacionais mais pobres e aqueles vulneráveis.

Baseando-se nestes dados, o estudioso, Jahit Sacalal, investigador principal do Centro de Investigação em Saúde de Manhiça (CISM) e docente da Faculdade de Medicina na UEM, dissertou sobre o desenvolvimento clínico da vacina da malária, em criação naquele centro de investigação.

Sacalal, começou por alertar o facto da malária ser responsável pela ocorrência de cerca de 300-500 milhões de casos de doença por ano, com cerca de 1-3 milhões de óbitos. Na África subsahariana 70-80% de mortes de entre as crianças com idade inferior aos 5 anos têm como diagnóstico a malária. Esta doença é responsável por cerca de 30% de todas as admissões hospitalares. Ela custa anualmente aos países africanos cerca de 12 biliões de Dólares Americanos.

Indo mais longe, o especialista explicou que malária afecta especialmente crianças até os 5 anos e as mulheres grávidas, por razões que se prendem com questões de imunidade destes dois grupos populacionais.

“Constitui fundamento para esta ocorrência o facto de a criança ter, ao nascer, uma imunidade baixa e desenvolver, ao longo do seu crescimento, anticorpos que contribuem para o desenvolvimento da sua imunidade, que atingem índices máximos quando a criança atinge o estado adulto. Por outro lado, as mulheres apresentam, durante a sua gravidez, índices de redução da sua imunidade,” disse Sacalal.

O ensaio desta vacina ou de testes de medicamentos começa com a população adulta, que suporta melhor a sua aplicação e teste. Após a prova de eficácia nos adultos os ensaios são feitos então com a população jovem, deslocando-se, gradualmente, para grupos mais jovens, até atingir as crianças e os bebés.

A escolha da Manhiça como centro deste projecto resultou do facto do distrito ser uma zona vulnerável a esta doença. O Centro de Desenvolvimento da Vacina Contra a Malária da Manhiça tem uma área de estudo de cerca de 500 km2, onde todos os residentes estão recenseados e as suas casas numeradas, para facilitar o controle e a monitoria da doença e os testes de eficácia da vacina, disse-nos a fonte.

Inicialmente, previa-se ministrar três doses desta vacina, previsão que pode vir a ser alargada para uma dose adicional, como forma de assegurar a sua eficácia e cobertura na idade considerada de maior risco.

Entretanto, ainda na sua dissertação, Sacarlal explicou o motivo de se levar muito tempo para a experimentação desta vacina.

“O desenvolvimento de uma vacina é um processo longo por exigir uma segurança pois pode perigar a saúde humana. Este processo pode levar até 15 anos e depende dos recursos disponíveis para custear o trabalho por realizar. Os seus resultados são comunicados permanentemente à organizações internacionais responsáveis pela validação dos ensaios, antes de se autorizar o seu fabrico e comercialização.”

Mãe com o seu filho na rede mosquiteira


Maiores problemas da saúde estão relacionados com a subnutrição

Outra palestra, proferida pela Maida Khan, no âmbito dos debates promovidos pela ACM, versou basicamente sobre as potencialidades dos frutos e plantas nativas. Constituiu fundamento para a escolha deste tema o reconhecimento de que os maiores problemas de saúde estão relacionados com a subnutrição, incluindo a má nutrição devido a falta de micro e macro nutrientes, especialmente nas zonas rurais.

Para Maida Khan, a causa principal da deficiência de micro nutrientes resulta do consumo insuficiente de alimentos ricos em estes nutrientes. As maiores deficiências de micro nutrientes em mulheres e crianças (grupos mais vulneráveis) são a deficiência em Vitamina A, C e D e vitaminas do complexo B, ferro, zinco e selénio.

Os vegetais e frutos são uma fonte alimentar e nutricional de grande importância, devido a sua riqueza em vitaminas, minerais e açúcares.

“Infelizmente, estes alimentos têm sido, algumas vezes, subvalorizados pelas populações, devido a falta de conhecimento dos benefícios que estes têm para a saúde. Frutos e vegetais são sazonais e a sua disponibilidade tem sido elevada apenas nas épocas de colheita, notando-se uma abundância de alimentos nessas épocas, registando-se entretanto, nos períodos seguintes, graves carências,” disse a especialista.

A introdução de técnicas de conservação e processamento destes produtos contribui para minimizar as perdas e para prolongar o ciclo de vida destes produtos, garantindo a sua disponibilidade por períodos mais longos, a sobrevivência de famílias rurais e para o melhoramento da segurança alimentar.

Neste momento decorre um estudo que visa fundamentalmente recolher informação sobre o processamento e consumo de frutos e plantas nativas nas comunidades rurais, analisar a informação recolhida para a sua utilização no processamento em laboratório destes produtos, processar laboratorialmente estes produtos e comparar estes resultados com as técnicas de processamento praticadas pelas comunidades, realizar análises físico-químicas e nutricionais dos produtos recolhidos nas comunidades e dos produtos produzidos em laboratório, transferir o conhecimento existente em certas comunidades sobre o processamento destes frutos e vegetais, para outras comunidades que possam fazer uso deste conhecimento entre outros objectivos.

Moçambique na cauda de acesso a energia entre os países da África subsahariana



Por último, Boaventura Cuamba, dissertou sobre a problemática do “Aumento do acesso à energia na África sub-sahariana”. A escolha deste tema resultou das discussões havidas na sexta Conferência da ASADI (African Science Academies Development Initiaves), iniciativa financiada pela Fundação Bill e Melinda Gates.

Ao longo da sua apresentação, o orador deixou claro que a energia não constitui um dos Objectivos de Desenvolvimento do Milénio (ODM), mas que ela é uma pré-condição para se alcançar os ODM, tendo citado como exemplo o uso das energias renováveis para bombear a água de furos em zonas rurais e remotas, garante do acesso à água de qualidade por estas populações.

O orador mostrou a grande discrepância existente entre a África subsahariana e outras regiões do mundo, no que diz respeito ao acesso à energia. De acordo com o orador, na África subsahariana, Moçambique está na cauda do acesso à energia, ultrapassando apenas o Congo.

Segundo a mesma fonte, 83% da população moçambicana consome energia derivada da biomassa, fundamentalmente lenha e carvão, apesar dos recursos energéticos variados de que dispõe.

Apontou a necessidade de se encontrar soluções para se inverter este cenário, reduzindo o consumo de biomassa (fundamentalmente lenha e carvão), mais caros e que trazem problemas de saúde, para se fazer um maior uso da energia eléctrica e do gás.

Esta inversão pressupõe a introdução de políticas e incentivos que possibilitem as famílias com menos recursos realizar o investimento inicial necessário para a aquisição ou instalação de certas facilidades, pois o carvão e a lenha são mais caros que a energia eléctrica e o gás, mas o uso destas últimas necessita de um investimento inicial para a compra de um fogão ou para a aquisição ou instalação de outras facilidades, nem sempre são acessíveis as famílias com poucos recursos.

De acordo com Cuamba, os esforços feitos pela Electricidade de Moçambique (EDM), principal Empresa no fornecimento de energia eléctrica, permitiram estender a cobertura da rede eléctrica dos 8.2% da população em 2006, para os 14% em Dezembro de 2009, com previsões de se atingir os 20% em 2020.

Apesar deste crescimento, estes resultados são ainda insuficientes e exíguos, especialmente quando comparados com países como as Maurícias e a África do Sul, cujas taxas de cobertura perfazem cerca de 100% e 70% respectivamente. Apesar de gerarmos mais energia do que consumimos, a expansão no nosso país privilegia locais densamente povoados, por causa dos custos mais elevados associados à expansão para zonas pouco povoadas.

Em algumas zonas do país, a EDM já realiza uma expansão social, possível apenas graças à natureza da EDM, cujo objectivo primário é servir a sociedade e não necessariamente a sustentabilidade financeira e o lucro. Ao longo das discussões salientou-se, de entre outros, a necessidade de Moçambique saber tirar vantagens e fazer uso da complementaridade das diferentes formas de energia que a localização estratégica do país permite.

Sem comentários:

Enviar um comentário

Edição 1 - Nós - Artes e Culturas

TV-NUMA PALESTRA COM ESCRITOR BRASILEIRO, RUBERVAM DU NASCIMENTO