segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

RETROSPECTIVA: O que fará lembrar 2010?

Custo de vida fez Guebuza baralhar o Governo

O elevado custo de vida que se verifica diariamente devido a crise económica mundial, impôs ao governo moçambicano a necessidade de subida generalizada de preços no princípio do mês de Setembro do ano corrente, o que consequentemente impulsionou uma revolta popular.
Após anunciada a subida que teria o seu início no dia 1 de Setembro, indivíduos anónimos pelo serviço de mensagens escritas, sms convocaram uma rebelião para a mesma data, que culminou num nível de danos nunca antes visto no país. Durante a manifestação registaram-se, mortes, ferimentos de pessoas, e altos prejuízos em dinheiro.
A multidão contestava efusivamente a subida de preços de pão, arroz, água, luz, cimento e muitos outros produtos básicos, daí que o alvo principal para a pilhagem eram empresas, armazéns, estabelecimentos comerciais, e ainda por motivos extrapolares alguns arrombavam bancos e destruíam diversos bens públicos.
A polícia, na tentativa de conter o ânimo agressivo da população, recorreu ao uso da força mas, para além de balas de borracha e gás lacrimogéneo que são indicados para este tipo de agitações, usou também balas de chumbo que culminaram com cerca de 11 mortes e ferimentos de pessoas, dentre elas, algumas crianças inocentes que se encontravam de passagem nos lugares de tumultos regressando da escola.
Alguns indivíduos das províncias como é o caso de Manica, motivados pelos acontecimentos em Maputo que acompanhavam pela comunicação social, tentaram também pautar pela rebelião, mas antes que a agitação tomasse um vulto maior, a polícia conseguiu controlar a manifestação.
A revolta que durou dois dias, com maior incidência nas cidades de Maputo e Matola, paralisou a circulação de transportes e o funcionamento de todas empresas públicas e privadas, o que levou o governo a reunir-se de emergência e tomar medidas de austeridade, com vista a conter as despesas públicas e consequentemente manter os preços de alguns produtos de primeira necessidade.
As empresas que foram pilhadas, ressentem até hoje, os prejuízos incalculáveis que foram causados pelos manifestantes, que num verdadeiro acto de vandalismo, saqueavam e destruíam bens privados assim como públicos. Na verdade alguns manifestantes de má fé mais do que protestar a subida de preços aproveitaram-se da conjuntura para usurpar propriedades alheias.
Por consequência deste facto, foi tomada a decisão de se registar os números de telefones celular dos cidadãos, ainda que de forma não assumida, o governo ainda, interropeu o funcionamento de serviços de sms, durante alguns tempos, com receio de que o povo continuasse com os tumultos, facto que mereceu muita crítica por parte de vários intervenientes da sociedade civil e dos políticos.
Após esse rebuliço da população, o Chefe do Estado moçambicano, Armando Emílio Guebuza, viu-se na contingência de remodelar o seu governo exonerando e nomeando novos ministros, com vista a imprimir uma maior dinâmica e acções de boa governação a sua comitiva.
Assim, foram exonerados os ministros da agricultura, da saúde, do interior, e da indústria e comércio, e nomeados novos governantes. A estes, Guebuza disse que sobre eles gravitavam enormes expectativas do povo, às quais deviam corresponder, buscando trazer cada vez mais melhores serviços ao cidadão.
Para alguns políticos e académicos, que consideraram a prestação do Ministro do Interior José Pacheco, um verdadeiro fracasso, condenaram a sua nomeação para ministro da agricultura, pois consideram que se ele falhou num pelouro, dificilmente corresponderá no outro, sobretudo o de agricultura que é visto como o mais difícil, como é sabido que pouco tempo levam os governantes na administração daquele pelouro, e apontaram para questões de confiança política como causas dessa nomeação.

Fracasso do Armando Artur no Ministério da cultura!

2010: Ano Internacional de Aproximação de Culturas, proclamado pela 62.ª Secção da Assembleia Geral das Nações Unidas e, cá entre nós, lembra-nos a reestruturação do governo, que por consequência, voltamos a ver o Ministério da Cultura, separado ao da Educação, pensando-se estar a projetar uma gestão mais autônoma e mais atenção, acima de tudo aos assuntos inerentes a esta área.
De facto estava previsto que fosse assim, tendo se empossado um ministro da cultura, a surpresa de todos veio a ser Armando Artur.
Empossado este escritor com mérito e renome nas artes em Moçambique e não só a expectativa foi maior, embora não tenha se notado grande diferença e muito menos teve algum impacto e reação no seio da classe outro facto curioso.
Mas o que está em causa não é a sua nomeação, pois pelo menos para os cargos políticos, o Presidente da República só é que sabe a quem deve ou não nomear e que condições esses dirigentes devem apresentar para ocupar tais cargos de alto sentido, na vida quotidiana da gestão dos diferentes sectores do governo, que não são para servir a eles próprios, mas ao povo e ao seu respectivo grupo alvo.
Neste caso estamos a falar do sector da cultura. O tal que muito se diz ser complexo, mas que muito é importante num Estado multicultural como nosso, onde a cultura, vai para além das artes, mas do modo de vida, do ser e do estar das pessoas, consoante o tipo de condições que encontra, no mesmo espaço.
Na verdade, a nomeação do Armando Artur, como ministro da cultura deve ter merecido os tais critérios que vão de acordo com o Chefe do Estado, mas muito pouco com os fazedores da arte e de toda a sociedade que precisa de uma identidade cultural, e acima de tudo condições para vive-la.
Porque o facto está consumado e Guebuza já colocou o distraído Artur, agora é hora de vermos o que o homem foi capaz de fazer para dignar a sua presença num alto cargo que conforme dissemos, não importa apenas aos artistas, mas a sociedade no geral, pois já sabe-se o contrário de culto é inculto!
Logo após a sua nomeação, vimos um Armando Artur preocupado com os discursos do que acções concretas nomeadamente: a implantação do Ministério da Cultura o aprofundamento de condições necessárias, para um funcionamento mais eficaz do seu ministério, saber a quem serve o ministério, como serve e porque serve. Era pertinente, igualmente, fazer o estudo da vida que passam os artistas e fazedores da cultura, as suas necessidades, as referidas condições e legislações para que da arte e cultura se viva em Moçambique, para além de garantir que se reduza o número de acções que só dão espaço aos incultos nesta sociedade.
Outra questão que muito chamou-nos atenção, neste primeiro ano do mandato, do passado escritor para Sua Excelência ministro da cultura, Armando Artur, foi o seu jeito distraído e lento de agir ao concentrar-se na elite do que as massas que produzem tanta qualidade não expressa no país. A maior parte da população é dependente, pelo que consome aquilo que se chama de “quinquilharia cultural”, que ultimamente surge com os artistas que de nada, sobre a arte sabem e andam a proliferar maldade legalizada pelo governo.
Sinceramente, não havia motivo de ser Guebuza a falar e a promover a cultura de trabalho, que mesmo existindo, não se faz sentir, porque o verdadeiro promotor, regulador e facilitador da legislação cultural do país anda concentrado na distração e nas coisas fúteis, e é incrível como ele é perfeito para isso.
Acreditamos, que mesmo os artistas que reivindicavam um Ministério da Cultura autónomo, hoje já nem sabem se assim o querem ou não, uma vez que nenhuma das suas expectativas foram satisfeitas, e pelo contrário, muitos estão frustados com a governação desorganizada e desastrada do Armando Artur, que antes vale se tivesse ficado por um simples escritor, porque pelo menos os fãs da sua escrita podia ainda conservar.
As infra-estruturas que muito servem este ministério ainda estão aos olhos do alheio, como a referida catedral das artes, Cine África, que por muito tempo esteve sob o monopólio de David Abílio, já distituido, e da respectiva esposa Pérola Jaime. O Museu da Revolução que ainda está sob controlo da lentidão que não é justificada, o recém criado Instituto Superior de Artes e Cultura que sobrevive em infra-estruturas emprestadas. A desvalorização dos heróis nacionais em forma de estátuas, entre outros males que enforcariam o leitor se fossem aqui mencionados, tal como afugentaram o próprio ministro da cultura, que finge-se de distraído.
Até os artesãos, se não fosse o David Simango e os seus parceiros que moveram os dedinhos para erguer um espaço que seja para a sua exploração continuariam a trabalhar na força do Deus dará. Toda gente sabe que os escultores continuaruiam nas passarelas das estradas, nas margens dos prédios, disputando espaço com os ambulantes e outras infra-estruturas comerciais e transportes públicos na Av. Julius Nyerere.
Sem falar de outras agremiações culturais, como a Associação dos Músicos Moçambicanos, AMMO, a Associação dos Escritores Moçambicanos, que já há muito dá sua sorte e capacidade de eloquência, sem muita participação do maestro que os devia acompanhar.
Já os Malangatanas, nem se quer podem reclamar pois o seu abandono está iminente no seio da sociedade, principalmente, depois da falsificação das suas obras em Portugal e que depois, o governo atirou as culpas sobre si.
Na verdade, Sua Excelência ministro da cultura, o “Estado da Cultura está mal”.
Por outro lado, foi marcante neste 2010 a realizaçao do Festival Nacional de Cultura na capital de Manica, Chimoio, o que devia ser o ponto da unidade Nacional, o encontro das artes ao mais alto nível, mas que apesar de ter movimentado muito dinheiro do Estado, foi um autêntico fiasco.
Fiasco este, promovido pela desorganização do Ministério da Cultura, distração do seu titular, desintegração dos artistas com larga experiência e má preparação, mesmo com o intervalo de dois anos que separa a realizaçao do mesmo.
Engraçado que mesmo quando o assunto era tratado nos tempos do Ministério da Educação e Cultura, por exemplo, falava-se de melhores condições, do que agora que o ministério ficou independente e entregue aos artistas, aliás, aparentemente, pois as vezes, nota-se que a intenção do Presidente da República de nomear um Armando Artur para dirigir aquele ministério, como estando a colocar um artista a cuidar do seu sector foi frustrada, porque este tomou este cargo, deixou de o ser e ficou um político e como se não bastasse da elite.

O desporto também teve altos e baixos entre esquemas de corrupção e interferências políticas.

No desporto, são vários os assuntos que podemos destacar, mas uma particular atenção, podemos dar ao Moçambola 2010, em que veio a cair por terra, finalmente, aquilo que desde a muito se alegava entre os corredores, isto é a corrupção.
O treinador do Futebol Clube de Machaquene, Arnaldo Salvado, decidiu levar avante, decidido a sofrer quaisquer consequências, mas procurando provar que a corrupção, particularmente, na compra dos árbitros, é uma realidade no futebol nacional.
Numa autêntica viragem, a acusação do treinador do Maxaquene contra os árbitros do Moçambola, definitivamente chegou á Procuradoria Gral da República (PGR), depois da deliberação da Liga Moçambicana de Futebol (LMF) que achou não ser da sua competência gerir as acusações, mas tendo no entanto, homologado aos resultados finais do certame, em benefício da Liga Moçambicana, do Artur Semedo, que ficou campeão.
Verdade ou mentira sobre estes factos que Salvado alega, sarber-se-a pela PGR, pois a comissão dos árbitros de futebol, já negou quaisquer envolvimento neste tipo de esquema, inclusive ameaçou interpor recurso contra o treinador, caso não se comprove as suas acusações.
Segundo Salvado, por consequência disto, o Maxaquene esteve em segundo lugar na maior prova futebolística nacional, tendo mostrado e elevado a sua honra, ao arrancar das mãos do Vilankulos Futebol Clube, que teve uma época brilhante, a taça de Moçambique.
Aliás, o Vilankulos e HCB de Songo, são clubes que, merecem nosso particular destaque pois, embora emergentes, muito mostraram a sua supremacia no futebol nacional e podem, a qualquer altura transferir as vitórias habitualmente sediadas em Maputo, para os seus respectivos distritos e províncias, o que de facto pode fazer diferença no desporto nacional.
Por outro lado as alvi negras, falharam o tricampeão nas Afrotaças, tendo ficado em segundo lugar, numa participação que apesare de não terem conquistado o título o mérito não lhes pode ser tirado.
Não podemos terminar sem antes fazer menção as interferências do poder político e executivo, na gestão do futebol nacional, principalmente no que tange as decisões da Federação Moçambicana de Futebol (FMF), concretamente na contratação do Mart Nooij e na ida do Tico Tico a Espanha para uma formação de treinadores de futebol.
Pedrito Caetano, o desconhecido e não reconhecido Ministro da Juventude e Desporto, abandonou com totalidade as outras competências, como cuidar dos assuntos dos jovens e da questão executiva, legislativa do desporto nacional, para cuidar de questões técnicas, entregues justamente, a FMF, como órgão que lida com o assunto de contratação, de acordo com as condições do Estado, dos técnicos e jogadores necessários para a seleção.
Foi, definitivamente, uma palhaçada e um jogo visivelmente de apalpar as chaves certas, do MJD, em entrometer-se nos assuntos da seleção, retirando o poder entregue ao Feizal Sidat, que por sinal, já estava intrigado com o holandês Mart.
Por fim referenciar que o relógio de contagem regressiva rumo aos jogos africanos, parou na praça da independência em Maputo, e muito receamos que o tal aconteça com os jogos que se avizinham, mesmo porque a preparação dos mesmos ainda é alvo de desconcentrações e concertações políticas.

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Edição 1 - Nós - Artes e Culturas

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