segunda-feira, 1 de novembro de 2010

“A CIÊNCIA É ENSINADA DE FORMA ALHEIA Á REALIDADE”




- Considera Gil Mavanga, docente de Didáctica de Física na UP

Dissertando sobre o tema que constituía o enfoque principal do seminário, educação científica, divulgação e popularização da ciência, Gil Mavanga, docente de Didáctica de Física no Departamento de Física da Faculdade de Ciências Naturais e Matemática da Universidade Pedagógica, UP, disse que é do conhecimento de todos que o ensino da ciência navega num mar de dificuldades em Moçambique.
Para este docente, “a ciência é ensinada de forma alheia à realidade, afastada do mundo em que se vive e com poucas ligações com os problemas reais desse mundo. Ela é apresentada de forma que não se evidencia a sua utilidade social e não se explica o seu papel nas mudanças do meio natural e social, pelo contrário ela surge como algo que não serve fora do contexto da escola ou que nem se sabe para que serve”.
“A ciência é vista como um corpo coerente de conhecimentos assépticos e imparciais sem interacção com os campos da tecnologia, da filosofia, da religião, da ética, da economia e da sociedade”.
Mavanga referiu que o novo conceito mundial no ensino das ciências no sentido CTS (Ciência, Tecnologia e Sociedade) é desconhecido ou ignorado no processo de ensino e aprendizagem das ciências nas escolas.
Associado à isso, estão os problemas de “ baixo desempenho dos alunos em ciências e matemática, em geral, a falta de professores qualificados nas áreas de ciências, a preparação ainda deficiente de professores de ciências nas instituições médias e superiores de formação de professores, a falta generalizada de laboratórios e respectivos equipamentos, bibliotecas apetrechadas com obras sobre ciências, material didáctico, acesso às novas tecnologias de informação, a aplicação na sala de aulas de métodos de ensino não apropriados para ciências naturais, a preocupante falta de iniciativas por parte dos professores na criação de meios usando materiais de fácil acesso ou recursos locais”.
Dados estatísticos de 2008 indicam que, apesar das grandes melhorias no acesso à educação básica, com a construção de mais escolas, particularmente nas zonas rurais, os esforços desenvolvidos pelas autoridades governamentais e privados no combate ao analfabetismo, com os programas de educação de adultos, ao ensino básico gratuito, cerca de 52% da população moçambicana é ainda analfabeta.
Na opinião deste docente, estes dados deixam transparecer quanto investimento precisa de ser efectuado, no âmbito da educação para trazer o conhecimento científico para a maioria dos moçambicanos.
“É necessário que se crie no seio da sociedade moçambicana, uma cultura científica e que se implementem políticas que priorizem o conhecimento científico como elemento propulsor de competitividade e geração de riqueza”.
“Os produtos de tecnologia são oferecidos aos usuários de forma cada vez mais agressiva, criando e impondo novas necessidades, enquanto o conhecimento da ciência e tecnologia envolvido na construção dos aparatos é cada vez mais oculto, por isso é urgente pensar-se noutras alternativas que permitam levar o conhecimento científico e tecnológico para cada vez mais perto da maioria da população”, observou Mavanga.

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