segunda-feira, 6 de junho de 2011

APREJOR leva crianças a visitarem pais reclusos em Mabalane



Crianças: “Foi um presente marcante e inesquecível, não via o meu pai há mais de seis anos e embora sabendo que está na cadeia, sempre quis estar com ele”
Pais: “Isto muda a minha vida, os meus filhos estão a sofrer e precisam de mim. Quero me ver livre e transformado”

O dia 04 de Junho de 2011 será inesquecível na vida dos cerca de 700 reclusos da Penitenciária Agrícola de Mabalane, na província de Gaza que dista a cerca de 300 quilómetros da capital do país.
A Associação para Regeneração e Reinserção do Jovem Recluso (APREJOR), levou cerca de 35 crianças residentes das cidades de Maputo e Matola para visitarem os seus pais, em situação de reclusão naquela instância prisional, com penas variadas entre 4 a 24 anos de prisão maior.
O encontro quase que foi de parar corações, foram mais de 10 minutos só de abraços, beijos e lágrimas de emoção. Era o momento de reencontro, onde os mais de dois, três, seis anos de separação, passaram sem deixar saudade. Pais e filhos, maridos e mulheres estavam mais uma vez juntos.
Salomão Muchanga, jovem recluso condenado a uma pena maior de oito anos de prisão, cuja metade já alcançou e por causa disso, falou-nos com expectativa de estar com a família dentro de dias, em liberdade condicional. Falou-nos na sua emoção, ao ver a sua irmã e os seus dois filhos que não os via há dois anos e seis meses.
“Este momento para mim é especial, sinto-me pessoa ainda na sociedade e ao ver que a minha família existe e sempre quis me ver, tenho cada vez mais motivos para querer estar livre, porque tenho família e ela precisa de mim. Fui condenado a 8 anos de prisão maior e a metade já cumpri. Espero sair em liberdade condicional, dentro de dias e a partir daí, quero recuperar o tempo perdido”.
Outro jovem que teve a surpresa de receber os seus dois filhos, envolvido na emoção de voltar a abraçar – os três anos, depois de estar na prisão, no cumprimento dos 12 anos de prisão maior que lhe foi dada “Depois de três anos sem ver a minha filha, estou feliz por este reencontro, pois os meus filhos estão a sofrer lá fora, é isso que sinto ao olhar para os seus rostos” disse André Carlos.
Gito Manhiça, está há seis anos sem ver a sua filha, e teve a oportunidade de abraça-la mais uma vez na tarde do último sábado, no encontro proporcionado pela APREJOR.
“Fui condenado a 12 anos de prisão maior e quase que a atingir a metade estava sem ver a minha filha. Com esta iniciativa tive essa oportunidade, isso revitaliza a minha esperança e muda a minha consciência. Por outro lado, fico feliz por perceber que como recluso não sou marginalizado pela sociedade, eles me valorizam e me dão a oportunidade de mudar eu amo a minha e filha e ao tê-la do meu lado dá me mais esperança de vida”.
Já as crianças que não identificaram-se, envolvidas em choros de emoção de voltar a gozar do carinho paternal, foram unânimes em afirmar que “foi um presente marcante e inesquecível. Não via o meu pai há mais de seis anos e embora sabendo que está na cadeia, sempre quis estar com ele”.
Ademais, lamentaram o facto de ter sido por um momento, mas estará marcado nas suas vidas que os seus pais, ainda pertencem a sociedade e estes continuam com direito, tal como se referia o lema do evento “Meu pai tem Direitos, mesmo preso”.
De acordo com Cesaltina Moiane, directora Nacional dos Serviços Correccionais e de Reintegração Social no SNAPRI, estes eventos, devem ser encorajados principalmente quando é a sociedade civil que se mostra preocupada porque os reclusos saem da sociedade para a cadeia e desta voltam para a sociedade.
Já Serôdio Towo, Presidente da APREJOR, disse que esta acção, enquadra-se no âmbito do plano estratégico desta agremiação, para amparar os reclusos e criar uma oportunidade para as famílias que não podem visitar os seus parentes em situação de reclusão por várias razões.
“A regeneração do recluso, precisa do apoio da sociedade civil e principalmente dos familiares. E ao levarmos desta vez as crianças para visitarem os seus pais, estamos a procurar mostrar aos reclusos que a família está perto de si”.
Serôdio Towo disse que, para conseguir alcançar este objectivo, a APREJOR, moveu uma acção em coordenação com o governo, através do Serviço Nacional das Prisões (SNAPRI) e a partir daí, segundo o presidente, durante 93 dias, fez-se um trabalho de localização das famílias e a selecção das crianças de acordo com as idades.
De resto, para esta iniciativa, a associação contou com o apoio de vários intervenientes da sociedade civil e principalmente do empresariado das cidades de Maputo e Matola, cidades onde pertencem as crianças que participaram deste evento.
A fonte explicou que várias actividades foram encontradas ao longo dos preparativos deste evento, mas tudo foi se superando pela força de vontade que os membros da sua associação e alguns simpatizantes da iniciativa que contribuíram de varias maneiras para o alcance.
O APREJOR para além de garantir a viagem das pouco mais de três dezenas de crianças áquela penitenciaria agrícola, garantiu ainda momentos culturais onde vários músicos de renome como são os casos de Tabazily, Dr. Mingos, Augusto Nhamugovela, Abuchamo e o grupo de Makwaela local, tiveram a oportunidade de abrilhantarem o evento.
Para além de espaços culturais, a APREJOR ofereceu peças de vestuário, compostos por cinco fardos de casacos de frio para proteger os reclusos do inverno que se faz sentir naquelas bandas.
APREJOR segundo contou-nos Towo, foi criada a sensivelmente há três anos, mas o seu reconhecimento jurídico pela parte do governo aconteceu em princípios do ano passado. Desde a constituição oficial da associação, já foram realizadas varias actividades inseridas na reabilitação do recluso. A titulo de exemplo, Towo apontou para uma grande palestra realizada para os cerca de dois mil e quinhentos reclusos que cumprem penas na Cadeia Central da Machava subordinado ao “ o papel da juventude na sociedade”, bem como a realização de uma marcha pacifica na cidade da Matola que visava desencorajar a sociedade pela pratica de Justiça pelas próprias maus, incluindo o fenómeno dos linchamentos.          
O representante da APREJOR, disse ser objectivo da sua agremiação sensibilizar a sociedade civil em geral, a participar activamente na regeneração e reinserção da pessoa reclusa, em especial os Jovens em conflito com a lei. A fonte falou ainda dos próximos desafios que a sua organização tem em manga, explicando que, dentro dos próximos dias irão efectuar um levantamento das crianças que estão aparentemente desamparadas devido a situação em que seus pais se encontram. 

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