quarta-feira, 27 de abril de 2011

Quatro dias de Presidência Aberta na província de Maputo:Guebuza escalou localidades em situação de estrema pobreza

Por Eduardo Quive - na cobertura da Presidência Aberta na Província de Maputo de 16 a 19 de Abril de 2011

Foram quatro dias de trabalho intenso, em que o Chefe do Estado moçambicano, Armando Guebuza, inteirou-se da real situação das localidades, numa escolha estratégica para chegar mais perto da população. Guebuza, terminou a sua visita presidencial a provincial de Maputo na terça-feira da semana passada, tendo escalado na mesma provincial, as localidades de Chicutso, Nhongonhane, Matsequenha e Siduava, nos distritos de Magude, Marracuene, Namaacha e Matola, respectivamente.



A presidencia aberta e inclusive de Armando Guebuza na provincial de Maputo, foi marcada por dentre vários momentos, visitas a projectos de desenvolvimento, financiados através do Fundo de Desenvolvimento do Distrito, sessões extraordinárias dos governos distritais e no ponto mais alto a auscultação pública sobre as inquietações das populações.

Armando Guebuza começou o seu périplo a esta parcela do país, escalando a localidade de Chicutso e Nhongonhane, nos dias 16 e 17 respectivamente, tendo se deparado com queixas de falta de energia eléctrica, agua potável, roubo de gado, vias de acesso, acesso a rede de telefonia móvel e transportes.

Chicutso e Nhongonhane, são localidades dos distritos de Magunde e Marracuene, cuja densidade populacional, é de 919 e 15 mil e 962 habitantes respectivamente.

Já em Matesequenha, o presidente da República esteve no dia 18 e deparou-se com problemas não muito diferentes as outras localidades já escalados.

Matesequenha que localiza-se a sul do distrito de Namaacha, faz fronteira com o distrito de Moamba, a norte, as localidades de Mafuiane, Impaputo e Kala-kala a sul e a RAS a oeste ocupando uma área de 588 quilómetros quadrado, conta actualmente com 1.353 habitantes, dedicando-se a exploração e venda de carvão vegetal para além da agricultura como actividades principais.

No entanto, a agricultura que corresponde a actividade de grande vulto na localidade, na campanha agrícola de 2009 e 2010, não chegou a render, isto, motivado pela insuficiente de queda pluviométrica e mal distribuída e altas temperaturas, ouve perda de várias culturas de rendimento, principalmente nas culturas de milho e feijão Nhemba, o que resultou, igualmente, na baixa Produção e produtividade e no incumprimento do planificado.

Armando Guebuza, viveu de perto este drama, seja pela visita que efectuou aos campos agrícolas e pelas inquietações colocadas no comício popular não só, a população, queixou-se também de roubo nas suas machambas.

“Há malfeitores que roubam o que produzimos nas machambas, deixam-nos semear e depois vem levar. Nós dependemos disso para viver aqui e já falamos disso com as autoridades, mesmo assim nada muda. Pedimos que haja um reforço policial porque aqui só temos polícia comunitária e estes não tem servido muito” disse Maria José, que acrescentou de seguida “nós culti8vamos e produzimos, mash á ladrões que vem levar tudo para cidade”.

Maria José não parou por aqui, reclamou a falta de oportunidade de emprego para os graduados da décima-segunda classe “Os nossos filhos quando terminam a decimal segunda classe, por não ter emprego, acabam bebendo tentação e outras bebidas. Levamos tudo que ganhamos com as machamabas e investimos nos estudos dos nossos filhos, mas depois os vemos a se entregar nos vícios, pedimos que haja emprego.”Disse.

O roubo de gado para as cidades, foi também denunciado em Matsequenha e Segundo contou a população ao Chefe do Estado, os indivíduos que envolvem-se nos roubos, apresentam factures de compra de uma cabeça de boi, mas aparecem com vinte cabeças, por isso o povo questiona o passivismo das autoridades e pedem que sejam criados talhos para venda de carne dentro da localidade.

Armando Guebuza ouviu as reclamações e Segundo disse, tomou nota, aprendeu, no entanto, é preciso que o povo saiba esperar das respectivas respostas e enquanto isso é preciso que trabalhem.

“A construção da riqueza faz-se de várias maneiras, mas o principal, é a unidade, a harmonia, a paz, para deste modo, trabalharmos e lutar contra a pobreza. Não tenhamos medo de trabalhar, temos força e recursos, então trabalhemos.”Disse Guebuza.

Moradores de Chicutso partilham água com elefantes

Concluindo a sua intervenção Carlos Timbe disse que na localidade onde se encontra há uma baixa onde estes, partilham a água com os animais de grande porte tal é o caso de elefantes.

Carolina Ubisse disse ser membro integrante de uma Associação de Agricultores e Criadores de Gado, avança que “recebemos inicialmente 10 cabeças de gado que reproduziram e passamos as crias para mais 10 pessoas.

Numa outra abordagem Carolina fez referência a represa que avariou e que não conserva a água e se tivesse a capacidade de conservar este precioso líquido “não só utilizaríamos para fins domésticos como também serviria para o regadio das machambas”. Não obstante tanta produção em nome dos membros da associação a interveniente pediu para que vedassem as machambas porque o gado bovino invade as suas culturas.

 
Falta de água facilita a iminência de diarreias em Chicutso

De acordo com Celina Mondlane, enfermeira do posto de Saúde de Chicutso para além dos pacientes percorrerem quilómetros à procura de uma unidade sanitária, o crónico problema de água acentua em várias doenças, como é o caso da chamada “doença das mãos sujas, a cólera”, bem como outras enfermidades. “ O dia-a-dia dos pacientes tem sido normal, eles vem quando tem enfermidades”, mas para além das distâncias a grande preocupação é água potável e alimentação, garantiu a enfermeira acrescentando que não há fonte de abastecimento deste precioso líquido, por isso que prevalecem muitas doenças”.

Para reverter a actual realidade das populações daquela localidade o centro de saúde tem distribuído cloro para a população dissolver em água. O facto agrava-se porque na localidade não contam com serviços de ambulância: “quando temos um caso grave temos que informar a sede em Magude, para que disponibilizem uma ambulância ou mesmo vir evacuar o paciente”. Questionada sobre as repercussões que possam advir pela falta deste serviços, Celina cingiu-se a comentar sobre a distância e o estágio das vias de acesso.

Refira-se que, o centro de saúde desta localidade conta com uma enfermeira e uma agente de serviço “servente” e, atende por dia cerca de 30 pacientes.

Já os doentes dizem que tem levado a peito a iniciativa do centro no sentido de minimizar esses males.

 
Agricultores denunciam desmandos da Açucareira de Xinavane

Na voz de Enfraime Titos Cossa, um dos produtores de cana sacarina, fez-se sentir o sofrimento de oito Associações que cultivam a cana-de-açúcar.

“Quando este projecto de cana-de-açúcar chegou ao nosso distrito cantámos de alegria, pois entendemos que o desenvolvimento havia chegado às nossas povoações, mas afinal era a entrada da pobreza, desgraça e desavenças no seio dos residentes que outrora conviviam em harmonia mesma dentro das dificuldades ”. De acordo com Cossa, o autor deste drama é a Açucareira de Xinavane que nunca honrou com a sua obrigação limitando-se em elevar cada vez mais a produção à custa de pobres camponeses, que não só entregaram as suas terras para o plantio de canas, mas também arduamente tem produzido toneladas em cada ano, em beneficio da empresa.

Ademais, esta Açucareira nunca aceitou firmar um contrato com nenhum dos agricultores, pese embora exista um instrumento orientador no processo que nos liga a ela. A fonte disse ainda que a empresa nunca se pronunciou em relação ao custo de aquisição da cana produzida pelos agricultores.

Dando exemplos claros a fonte disse que num documento em posse deles, aparecem despesas de salários correspondentes a um ano, despesas de transporte de trabalhadores, facto que não constitui a verdade porque estes, nunca se beneficiaram disso e, para agravar os mesmos produtores vivem nas cercanias das machambas e nunca precisaram de transporte para deslocar-se a fabrica.

Este procedimento tomado pela empresa faz com que o “camponês trabalhe um ano para ganhar apenas 6 mil meticais”. A fonte avançou ainda que vários contactos foram feitos com o corpo directivo da empresa, mas a tentativa logrou num fracasso.

Camponeses acusam “Xinavane” de tentativa de burla

Ainda sobre o caso de exploração de terras e trabalhadores, a empresa Açucareira de Xinavane contratou um trabalhador patenteado director de todas associações produtoras de cana-de-açúcar mas que o tal não teve consentimento dos camponeses, facto que para estes o “director” está para defender os interesses da empresa. “Este senhor claramente vem defender os interesses da Açucareira e não os nossos”.

O intitulado “director” sempre que se aproxima junto das comunidades para além de não colaborar para encontrar soluções “só limita-se a demonstrar a arrogância exibindo o seu currículo académico e engrandecendo a nossa desgraça”.

Por estes constrangimentos os camponeses pediram ajuda ao PR para que encontre soluções pois segundo eles “ a nossa identidade social está ferida” e pedem a intervenção do governo para que retire as terras “para que um dia, os nossos filhos e netos possam voltar a cultivar várias culturas que foram substituídas pela cana-de-açúcar que está a beneficiar a açucareira”, concluiu.


Situação económica de Matsequenha



Referido antes, em Matsequenha, a agricultura, a criação de gado e venda do carvão vegetal e lenha, ocupam o grosso da população.

Na agricultura, embora embaraços havidos na campanha 2009/2010, foram alocados para produção de alimentos, 120 quilogramas de sementes de feijão, cobrindo 2 hectares um metro cúbico de estacas de mandioca. 3 Toneladas de milho.
Foram apresentadas 6.360 de gado bovinos em 2010, representando 84% se comparado com os 3.450 bovinos de 2009.

No que diz respeito ao comércio, existem apenas quatro lojas em funcionamento, uma mini mercearia e 8 barracas e a localidade possui ainda uma indústria de extracção e processamento de pedras Tâmega.

O turismo ainda não se faz sentir na localidade, sendo que a construção de infra-estruturas, também está enfraquecida. Entretanto, estão e situação de reparo, 65 quilómetros por extensão de estrada não clarificadas consideradas principais. Foram reabilitadas 8.5 km de extensão no âmbito do Fundo descentralizado para o sector agrário.

No que diz respeito a gestão do Fundo de Desenvolvimento do Distrito, Matsequenha, teve financiado 15 projectos de 2007 a 2010, nos sectores de comércio e agricultura. Destes, oito estão parados por motives não claros, diz ainda o informe, apresentado ao Chefe do Estado.

Em termos de receitas, durante o período acima indicado foi colectado 5.165 meticais de impostos da reconstrução Nacional e Taxas diversas contra 5.443 meticais do ano passado, tendo havido, portanto, um decréscimo devido a fraca dedicação de alguns líderes.



Siduava: um povoado com um desenvolvimento franco

Não abstendo-se do cenário negro, vivido na zona rural, o birro de Siduava, com 3.500 habitantes, divididos em 19 quarteirões, tem 90 por cento da sua população servindo a agricultura e metade destes, é desempregada.

Armando Guebuza, escalou Siduava, no último dia da sua visita, dedicada ao município da Matola, tendo vivido de perto a situação dramática da população local, que tal como Matsequenha, ainda tem as marcas da Guerra de destabilização.

O conflito armado que culminou com a assinatura dos Arcodos Gerais da Paz em 1992, fez com que o povoado de Siduava, perdesse vários habitantes e desligasse o seu estilo característico de criador de gado com muitas potencialidades.

A população de Siduava, reclamou ao Presidente da República, a expansão da rede eléctrica no bairro, o acesso a mais furos de água, o melhoramento das vias de acesso, a criação de uma rota de transportes que ligue o bairro com o centro das cidades de Maputo e Matola e principalmente, o alargamento do horário de funcionamento do posto de saúde local.

Alias, a população referiu que o drama vivido com o enceramento do posto de saúde local aos sábados e domingos, tem obrigado com que os doentes aguardem a segunda-feira para uma consulta médica.

Por outro lado, a insegurança começa a ameaçar o bairro, sendo que na mesma ocasião, os moradores pediram ao Armando Guebuza, a instalação de um posto policial no bairro.

Neste bairro, o Chefe do Estado, teve o seu discurso virado ao elevado custo de vida e sobre a ideia de se olhar as greves e manifestações, como meios para reivindicar o alto custo de vida, ao invés de se aumentar o trabalho para a Produção.

Guebuza, dissertou sobre as possibilidades que o povo tem, num país livre e independente, para produzir comida e deixar de ser pedinte, mas ser quem oferece.

“Uma coisa é não termos coisas para sobreviver, outra é não ter liberdade para fazer. Mas nós temos a liberdade e podemos produzir. Podemos deixar de ser pedintes e passarmos a dar também”. Disse Armando Guebuza, acrescentando que “há pessoas que pensam que basta querer para ter e ao em vez de optar pelo trabalho, ficam sentados e exigem. Fazem barulho e dizem quer comer. Porque não trabalham porque tem forças.”



“As pessoas entendem a situação económica do país”

Entretanto, em jeito de balanço, o presidente da República Armando Guebuza, disse ser assinalável o desenvolvimento da provincial não só economicamente, como politicamente, pois mostra-se uma liderança que se preocupa com os problemas reais das localidades.

O Presidente, disse ainda que as pessoas reconhecem a real situação económica do país e mostraram disposição para o trabalho e o consequente aumento da Produção e produtividade.

“Notamos que as localidades estão conscientes dos passos que o governo está dar para mudar as condições em que se encontram. Pelas localidades onde passamos, havia Produção e isso é exemplo de trabalho.”

No que diz respeito aos sete milhões, Armando Guebuza, mostrou a sua preocupação com a fraca devolução dos valores, apesar de alguns projectos estarem em andamento.

A terminar, Guebuza, explicou que a escolha das localidades para a presente visita presidencial, surge na necessidade de se ficar mais perto do povo, aprender e ouvir as suas inquietações.


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